A Baosteel não conseguiu provar que causará menos impacto no Espírito Santo do que na China. A missão enviada ao País com o dever de conhecer os programas ambientais adotados pela empresa voltou sem respostas. A empresa omitiu, inclusive, qual será sua meta de emissão de partículas sólidas que serão lançadas na atmosfera de Anchieta, no sul do Estado.
O grupo enviado à China não cumpriu seu dever de questionar. Segundo os ambientalistas, o fato da missão só ter ido à fábrica da Baosteel conhecer seus mecanismos no 11º dia da viagem e terem ainda voltado sem respostas, mostra o perigo que Anchieta está correndo, caso a instalação da siderúrgica chinesa se confirme.
Sabe-se, ainda, que a viagem acabou com a Baosteel se recusando a dar mais informações. O presidente da empresa, Li Young, não só afirmou que não era o momento, como não ofereceu os dados questionados. O que reforça a tese dos ambientalistas, de que a empresa já tomou as rédeas dos negócios, inclusive, com apoio do poder público.
Eles também contestam o fato de a missão ter em sua composição pessoas contratadas pela própria empresa, como o diretor comercial da Cepemar, Alberto Carvalho, e o diretor da Sereng, Fernando Guéron. A Cepemar, que realizou todos os estudos ambientais dos projetos poluidores do Espírito Santo, é também responsável pelo projeto da Baosteel, em Anchieta.
Campeã mundialEm meio a tanta falta de informação, a única certeza é que a China tem o título de campeão mundial de emissões de gases de efeito estufa. É também grande poluidora dos rios, como afirmou o ambientalista chinês Ma Jun, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, neste domingo (26). Segundo ele, a poluição é hoje o maior foco de tensão social na China.
Essa tensão gerou no País a instabilidade social, doenças, protestos e, sobretudo, destruição ambiental. Todos problemas já previstos pelos ambientalistas capixabas, caso a Baosteel se instale no sul do Estado.
Na previsão dos ambientalistas, o pólo industrial programado pelos chineses para a região, deixará os 15 mil habitantes que vivem na área urbana do município sufocados pelos mais de 20 mil funcionários que a Baosteel já está atraindo para o sul do Estado, provenientes de todas as partes do Brasil, como Manaus e Pernambuco.
A situação é vista com receio pela comunidade, que alerta para falta de infra-estrutura para receber esses trabalhadores, principalmente nas áreas de saúde, segurança, educação, saneamento e habitação. Há, ainda, preocupação com os trabalhadores que serão dispensados depois da fase de instalação do empreendimento. Haverá criação de bolsões de miséria e aumento da violência na região.
Criador da ONG Instituto de Assuntos Ambientais Públicos, o jornalista e ambientalista Ma Jun diz ainda que 300 milhões de chineses não têm acesso à água limpa e 200 milhões vivem em cidades com o ar poluído. Dois terços das 600 grandes cidades chinesas sofrem com a falta d’água. O problema leva a dezenas de casos de intoxicação por água contaminada por semana. Segundo Ma Jung, a mentalidade no país ainda é em prol, apenas, do desenvolvimento econômico.
Em Anchieta, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Benevente rejeitou por unanimidade a instalação da empresa na região. Entre os impactos imediatos previstos com a instalação do empreendimento está a destruição das pequenas propriedades rurais nos municípios. Isso porque a empresa competirá pela água com os moradores, principalmente com os das cidades banhadas pela bacia, e com a produção agrícola.
Ma Jung afirma que a poluição produzida pelas indústrias na China é tamanha, que mesmo com a redução de 20% da poluição, o país ainda estará longe de absorver a poluição produzida na região.
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 28/10/2008)