Recente pesquisa realizada pelo Instituto Quorum - instituição do terceiro setor que tem como política que todos os projetos - próprios ou não - devam obrigatoriamente contemplar um foco de sustentabilidade - mostra que 70% dos consumidores paulistanos desistem de comprar produtos com certificação ambiental se os mesmos itens sem certificação tiverem preço mais baixo. Outros dados recolhidos mostram que 47% dos paulistanos não deixam de consumir determinados produtos mesmo cientes de que são prejudiciais à natureza.
Segundo Karina Aharonian, coordenadora do grupo Compradores de Produtos Florestais Certificados, ligado à organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, deve-se evitar a comparação entre os preços de produtos certificados e os preços de produtos obtidos através de exploração predatória (sem manejo sustentável) e ilegal (contrabandeado de terras indígenas ou terras públicas griladas, com situação fundiária irregular, extraído através de trabalho forçado, sem pagamento de impostos, "legalizados" através da corrupção).
"Quando o consumidor opta por produtos certificados, ele demonstra sua preocupação com o meio ambiente e com a qualidade de vida dos trabalhadores e comunidades. Mas quando o consumidor tem a opção de utilizar produtos certificados e opta por produtos sem certificação, ele se torna conivente com as irregularidades e descaso dos produtores com relação ao meio ambiente e sociedade em geral. No entanto, já existem diversos produtos certificados pelo FSC que possuem o mesmo preço de um produto não certificado", diz Karina.
Ela lembra ainda que quando o consumidor opta pela compra de produtos certificados, o fornecedor tem que se adequar a esta escolha. E que essa adequação se reflete na certificação de novas áreas e cadeias de custódias. "O aumento de operações certificadas contribui para a diminuição dos preços". A pesquisa do Instituto Quorum vem ao encontro do relatório "Quem se beneficia com a destruição da floresta?", lançado na semana passada pelas ONGs Repórter Brasil e Papel Social. O documento traz algumas considerações sobre a certificação florestal, acusando empresas de utilizar a certificação emitida pela Forest Stewardship Council (FSC) como garantia de que estão isentas de culpa em relação às irregularidades que possam existir em sua cadeia produtiva.
Esse selo serve como garantia de que aquilo que o consumidor está adquirindo foi feito com matérias-primas e através de processo produtivo sustentáveis. A acusação das ONGs decorre da possibilidade de que algumas empresas que possuem o selo FSC para determinados produtos, utilizem esse fato em uma mensagem publicitária mal formulada, que não seja clara o suficiente sobre o real "quoeficiente de sustentabilidade das" empresas.
O relatório aponta a cidade de São Paulo como principal financiadora e investidora da destruição da floresta. São retirados diariamente da floresta amazônica 68. 500 m³ de madeira por dia. É o equivalente a dizer que são derrubados anualmente 25 milhões m³ de floresta. Dessa quantidade, estima-se que 90% sejam retirados de maneira ilegal. São Paulo fica com cerca de 15% (3.750 milhões) de tudo o que é retirado da Amazônia. Tais números reforçam a credibilidade da pesquisa do Instituto Quórum.
(Amazonia.org.br, 27/10/2008)