Os riscos de nada fazer para combater as alterações climáticas ultrapassam em muito a turbulência causada pela crise financeira global, alertou hoje o economista britânico Nicholas Stern numa conferência sobre clima e carbono em Hong Kong. “As consequências de ignorar as alterações climáticas serão muito maiores do que as consequências de ignorar os riscos no sistema financeiro”, disse Stern, especialista que lançou em 2006 um relatório sobre o custo da inacção perante as alterações do clima.
Stern considera que os esforços dos governos para a estabilização do clima podem ser uma oportunidade para criar uma ordem mundial nova, mais “verde” e menos dependente dos combustíveis fósseis.
“A lição que podemos tirar desta recessão é que podemos aumentar a procura da melhor maneira possível ao concentrarmo-nos num futuro com um baixo crescimento de carbono”, comentou Stern. Para isso defende um maior investimento nos transportes públicos, energia e tecnologias amigas do ambiente.
Os avisos de Stern surgem pouco depois da conferência Ásia-Europa em Pequim, na semana passada, onde a China indicou estar comprometida em procurar um acordo climático até à conferência de Copenhaga, em 2009. Daqui deverá sair o sucessor do Protocolo de Quioto, que expira em 2012.
Stern não tem ilusões. As negociações para Copenhaga serão “muito tensas”. Não obstante, não é pessimista. As possibilidades de um acordo quanto à redução das emissões de dióxido de carbono em 50 por cento até 2050 continuam a ser “muito elevadas”.
Mas qualquer acordo terá de ultrapassar as diferenças entre os Estados Unidos – historicamente o maior emissor de gases com efeito de estufa – e os países com crescimento rápido como a China.
Stern elegeu os Estados Unidos e a China como as partes chave para o próximo acordo internacional. “Qualquer um deles pode matá-lo, mas penso que nenhum deles o irá fazer”. O economista acredita que o próximo Presidente norte-americano poderá ser muito mais proactivo do que George W. Bush.
(Reuters, Ecosfera, 28/10/2008)