Investidores, como Bill Gates, da Microsoft, amargaram prejuízos de bilhões de dólares após apostarem na indústria do etanol produzido a partir de milho, uma fórmula que George W. Bush adotou como a resposta aos problemas energéticos dos Estados Unidos.
Segundo uma análise do "Financial Times", seis dos maiores produtores de etanol que fizeram ofertas públicas de ações nos Estados Unidos perderam mais de US$ 8,7 bilhões em valor de mercado no período entre o apogeu do setor, em meados de 2006, e o início deste mês. O boom no setor de etanol ocorreu após uma lei de 2005 que exigiu que as refinarias misturassem bilhões de litros de biocombustível aos combustíveis derivados de petróleo.
Os investidores que compraram e mantiveram, devido às expectativas de lucros, ações de empresas como a Avetine Renewables, VeraSun Energy e outras produtoras de etanol que fizeram ofertas públicas de ações após 2005, viram o valor desses papéis desabar até 90% em relação ao preço inicial, apesar dos bilhões de dólares desembolsados pelo governo norte-americano para apoiar o setor.
Entre os perdedores desta onda frenética de investimentos no etanol, que alguns compararam à mania "pontocom" do final da década de 1990, estão nomes famosos, como Bill Gates, o fundador da Microsoft. A sua firma privada de investimentos perdeu milhões de dólares com a aposta feita em 2005 em uma companhia chamada Pacific Ethanol. A firma de Bill Gates, a Cascade Investments, não retornou a ligação da reportagem para fazer comentários.
Outras firmas de equities privadas e fundos de hedge que investiram na indústria do etanol nos anos prósperos de 2005 e 2006 tiveram um desempenho misto. Aqueles que compraram ações de empresas de etanol e as venderam nos estágios iniciais tiveram lucros substanciais. A Metalmark, o ex-braço do banco norte-americano do setor de equities privadas Morgan Stanley, embolsou dez vezes o valor pago em 2003 pela Aventine, quando fez ofertas públicas das ações da empresa em 2006.
Já o Thomas H. Lee Partners, um grupo de equities privadas de Boston, foi obrigado a recuar quanto aos seus planos em relação à Hawkeye Renewables, uma produtora de etanol comprada pelo grupo no ápice da bonança do etanol. Um indivíduo próximo ao Thomas H. Lee defendeu o investimento feito pelo grupo, argumentando que a Hawkeye gerou um vigoroso fluxo de caixa, apesar do ambiente empresarial difícil que derrubou os preços das ações de oferta pública das rivais.
Nem a Metalmark nem o Thomas H. Lee Partners quiseram tecer comentários sobre o assunto.
Os prejuízos dos investidores ocorrem no momento em que os contribuintes pagam bilhões de dólares para apoiar a indústria do etanol. Mais de US$ 11,2 bilhões foram gastos desde 2005 em isenções fiscais para companhias que misturam etanol aos combustíveis derivados de petróleo. E outros bilhões foram usados para o pagamento de subsídios estatais e federais diretos à produção de etanol dos Estados Unidos.
"O que estamos vendo é uma indústria que custou US$ 80 bilhões para chegar a este ponto", afirma Bob Starkey, analista do setor de combustíveis do Jim Jordan & Associates, um grupo de pesquisas em Houston.
No entanto, o etanol desapontou muita gente que via nele um produto maravilhoso que poderia reduzir a dependência norte-americana do petróleo estrangeiro e, ao mesmo tempo, diminuir a poluição. E o pior é que um número cada vez maior de críticos influentes afirma agora que o etanol contribuiu para a elevação dos preços dos alimentos.
Os defensores da indústria ainda defendem o etanol. Bob Dinneen, presidente da Associação de Combustíveis Renováveis, o principal grupo de lobby da indústria em Washington, afirma: "O etanol representa uma oportunidade para que os norte-americanos invistam aqui em casa, em vez de dar continuidade à hemorragia monetária para o Oriente Médio. Eu o desafio a encontrar atualmente qualquer fonte de energia que não dependa do apoio governamental. Se quisermos ter energia produzida domesticamente, então parte desses subsídios será necessária".
(Por Kevin Allison e Stephanie Kirchgaessner, Financial Times, UOL, 22/10/2008)