Mudanças climáticas catastróficas e uma desigualdade social abissal foram as principais causas da nova transição apresentadas por Ignacy Sachs durante a palestra “A grande transição: rumo às biocivilizações do futuro”, na quarta-feira (22/10), no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp. No encontro com professores e alunos da Unicamp, grande parte do programa de pós-graduação em ambiente e sociedade, ele chamou a atenção: “Vocês, novos historiadores vão ter de inventar. Quando olharem para nosso tempo, os futuros historiadores verão a era da “energia fóssil” como um breve, mas acidentado, interlúdio responsável pela explosão demográfica mundial.”
Um dos mais importantes estudiosos do desenvolvimento, Sachs ressaltou que é preciso pensar num desenvolvimento includente, capaz de gerar um número expressivo de trabalhos descentes. “Temos de pensar em sustentabilidade ambiental. Sair dos modelos predatórios de habitação e recursos naturais”, enfatizou.
O novo paradigma de desenvolvimento explorado por ele no evento deve unir economia, ecologia, antropologia cultural e ciência política. Ele ressaltou que o Brasil tem uma vantagem comparativa forte no que diz respeito a recursos naturais. Para ele, um potencial enorme em biodiversidade e agricultura. Mas tudo poderá desaparecer se não forem potencializados por pesquisas e modelos sociais de construção. “É preciso encontrar soluções para problemas para que o país não sofra com os percalços da desigualdade”, acrescentou.
Para Sachs, o encarecimento do petróleo e a recuperação dos preços dos alimentos se mostrarão positivos se ajudarem a sociedade a se tornar independente do petróleo e se melhorarem a vida dos pequenos agricultores em lugar de beneficiar as multinacionais da alimentação. “Este conjunto de crises atuais mostram que estamos no limiar da terceira transição, pois assistimos à escassez do petróleo e, assim, seremos obrigados a sair dessa era”, disse.
Sachs lembrou que a evolução conjunta do gênero humano e da biosfera foi marcada no passado por duas grandes transições. Há milhares de anos, a primeira delas acontecia coma transferência da coleta e da caça para a agricultura e a criação de animais. A segunda, a era dos abundantes e baratos combustíveis de origem fóssil (carvão, petróleo e gás) começou há poucos séculos. Mas Sachs faz repensar sobre o século 20 ao ressaltar que as muitas guerras, duas delas mundiais fizeram dele o século mais trágico, deixando como herança genocídios, mudanças climáticas e outros desafios a ser enfrentados.
(Jornal da Unicamp, 24/10/2008)