A China, apoiada pelo aumento das exportações das indústrias mundiais para o seu território, deve alcançar níveis de emissão de gases do efeito estufa muito maiores do que o esperado nas próximas duas décadas. A poluição chinesa deve mais que dobrar em duas décadas, diz o Relatório Energético da China 2008, publicado pela Academia Chinesa de Ciência em conjunto com outras instituições nacionais.
O governo do país não divulgou informações oficiais atualizadas, mas vários estudos estimam que as emissões chinesas já ultrapassam facilmente as dos Estados Unidos, assumindo a liderança mundial.O Laboratório Nacional de Oak Ridge (EUA) estima que os Estados Unidos tenham emitido cerca de 5,9 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2007 e a China, cerca de 6,6 bilhões de toneladas. As emissões globais de CO2 alcançaram 31 bilhões de toneladas em 2007.
Atualmente, o país já sofre pressões internacionais para assumir metas em um novo acordo climático que deve ser finalizado em Copenhague em 2009. Esta semana a União Européia disse que os países em desenvolvimento deveriam aceitar reduções entre 15% a 30% nas emissões de gases do efeito estufa (GEE) com base nos níveis do cenário de tendências atual.
De acordo com os panoramas explorados no relatório, em 2020 as emissões provenientes de combustíveis fósseis podem variar entre 2,5 e 2,9 bilhões de toneladas métricas de CO2. Em 2030, as emissões podem alcançar entre 3,1 e 4,0 bilhões de toneladas métricas de CO2. “Não importa como as responsabilidades históricas são definidas, o caminho do desenvolvimento em nosso país não pode repetir as emissões descontroladas do uso energético dos países desenvolvidos”, afirma o relatório, publicado em chinês.
Esta declaração reflete a crescente opinião de que mesmo os países em desenvolvimento precisam agir, assumindo medidas concretas para reduzir o impacto sobre o meio ambiente. O planejamento do desenvolvimento dos países precisa ser baseado em políticas a curto, médio e longo prazo, levando em conta as tendências de crescimento e a infra-estrutura necessária.
MDL
Segundo o relatório do Banco Mundial “Estado e Tendências do Mercado de Carbono 2008”, a China foi líder no número de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em 2007, com uma fatia de mercado de 73% em relação ao volume transacionado (em 2006 foi responsável por 56%).
O país possui metas ambiciosas para as energias renováveis e mantém uma forte relação do MDL com a lei nacional que trata deste assunto. A lei de conservação energética do país foi aprovada em outubro de 2007 e estabelece uma meta nacional de redução do consumo de energia em 20% até 2010, sendo que cada província recebeu uma meta pra reduzir o consumo de 12 a 30%. Um estudo desenvolvido pela empresa de consultoria de Pequim Ecofys Azure International demonstra que o MDL está intimamente ligado com o crescimento das energias renováveis na China, principalmente eólica e hidráulica.
A revista Trading Carbon (na edição de julho/agosto 2008) afirma que, levando em conta todos os projetos de energia eólica que estão para ser aprovados pelo MDL, a meta de 5 gigawatts (GW) estabelecida pelo governo chinês para 2010 já foi ultrapassada, alcançando 10 GW. Em 2020 o país pretende chegar a 30 GW de capacidade eólica instalada, 85 GW de pequenas centrais hidroelétricas e 300 GW de grandes centrais hidroelétricas.
Mas, apesar destes números, é preciso levar em conta a magnitude impressionante do crescimento econômico da China. O relatório complementa que, se levados em conta os investimentos totais relacionados ao setor energético, o mercado do MDL representaria apenas cerca de 5% em comparação com investimentos em novas usinas de energia, infra-estrutura e importação de combustíveis.
"Mecanismos baseados em projetos possuem pouca capacidade de alcançar impactos mais amplos sobre as questões estruturais do mercado energético chinês". A energia proveniente do carvão ainda é responsável por cerca de 70% da demanda energética do país.
Iniciativas
O legislativo chinês aprovou no início de setembro uma lei que demanda mais recursos fiscais, quebras de taxas e outras medidas para promover o crescimento econômico sustentável por meio da conservação dos recursos e do controle da poluição. A lei foi assinada pelo presidente Hu Jintao e entra em vigor no dia 1° de janeiro de 2009, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua.
Exigindo maior monitoramento das indústrias, a lei irá regular a produção de aço, metais e energia no país, assim como as refinarias de petróleo e as construções. As indústrias irão receber incentivos para adotar tecnologias de economia de água e utilizar fontes mais limpas de energia, como o gás natural e os combustíveis alternativos.
Além disso, a lei promove a reciclagem e o uso de resíduos, incluindo dejetos animais e co-produtos da agricultura. Em 2007, a China consumiu 1,16 toneladas de carvão por cada 10 mil yuan de PIB, um decréscimo de 3,66% em relação a 2006. Para 2010 o governo estabeleceu uma meta de reduzir em 20% o consumo energético por unidade de PIB e em 10% a emissão dos principais poluentes (com base em 2005).
(Por Por Fernanda B Muller, Carbono Brasil, Envolverde, com informações da Reuters e de agências internacionais, 24/10/2008)