Além de produzir mais, os orizicultores estão preocupados em oferecer diversidade ao consumidor. Com essa idéia, o Rio Grande do Sul aposta na variedade Oryza Glaberrima, popularmente conhecida como arroz quilombola. Apesar do crescimento de 25% registrado na safra 2008/2009, os módicos 10 hectares ainda estão longe de atender à crescente demanda. Afinal, o cereal apresenta índices 90% maiores de ferro do que o agulhinha, 30% a mais de zinco e 52% mais proteína, conforme estudos realizados pela Ufrgs, em parceria com o Núcleo de Ecologia e Agriculturas da Guayí e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas. Tantos nutrientes já refletem no bolso do orizicultor. Hoje, a saca de 50 quilos do arroz quilombola pode ser vendida por até R$ 40,00, enquanto a média do grão é de R$ 35,40.
O cultivo envolve nove comunidades quilombolas gaúchas em Mostardas, Tavares e Palmares do Sul. Conforme o coordenador da Guayí, Nelson Diehl, trata-se de uma variedade capaz de render até seis toneladas por hectare, sem o uso de agrotóxicos, herbicidas ou adubos químicos. 'O custo de produção fica reduzido em 30%, embora ainda seja necessário aumentar a produtividade para garantir preços mais baixos ao consumidor', disse.
O cereal é oferecido em feiras, como o Brique da Redenção, em Porto Alegre. Eloísa da Silva é membro da comunidade São Simão, em Mostardas, e atua como representante comercial do grão cultivado por seu pai e outros orizicultores. 'Vendemos por até R$ 4,50 o quilo. No primeiro fim de semana que participamos no Brique, o faturamento foi de R$ 800,00', informou Eloísa, que levará 500 quilos do grão para exposição no Rio de Janeiro em novembro. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas, Tadeu Porciuncula, considera a variedade uma alternativa de renda e alimentação saudável.
O arroz quilombola chegou ao Brasil com os africanos no século 18 e foi muito cultivado no Norte e Nordeste. Apesar de ter sido proibido pela coroa portuguesa – que queria incrementar o consumo do grão vindo da Europa – os escravos mantiveram lavouras clandestinas. A vinda da variedade para o RS, em 2005, se deu a partir do professor da Ufrgs, Sebastião Pinheiro, que experimentou o produto na Paraíba e resolveu averiguar se haveria adaptação ao clima gaúcho. O cultivo foi implantado sob a forma de um projeto para resgatar o passado cultural e agrícola da comunidade negra.
(Por Andreia Fantinel, Correio do Povo, 26/10/2008)