O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu nesta sexta-feira (24/10) medidas "drásticas" para proteger os países subdesenvolvidos contra a crise financeira global.
Ele afirmou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os bancos centrais dos países desenvolvidos devem disponibilizar linhas de crédito para que os países pobres possam fazer fundos de emergência.
Segundo Ban, a crise econômica "pode ser uma turbulência à qual muitas das pessoas dos países pobres não poderão sobreviver".
Em um encontro com representantes do Banco Mundial e do FMI, Ban afirmou que os países subdesenvolvidos estão sofrendo as mesmas pressões que a Europa e os EUA, mas contam com muito menos recursos para salvar instituições financeiras e empresas.
"A crise ameaça todos os progressos que fizemos para combater a pobreza e a doença, nossos esforços contra as mudanças climáticas e pelo desenvolvimento econômico. Devemos assegurar que estas pessoas (dos países pobres) tenham o que comer".
O secretário-geral da ONU afirmou que vai apresentar suas propostas no encontro de líderes do G20, marcado para o dia 15 de novembro, em Washington.
Mercados em turbulência
As declarações do secretário-geral da ONU foram feitas em mais um dia de tensão no mercado global e em meio a notícias que podem indicar que o mundo está caminhando para uma recessão.
O índice Dow Jones, em Nova York, registrou queda de 3,59% e a bolsa eletrônica Nasdaq caiu 3,23%.
Em São Paulo, o índice Bovespa encerrou o pregão em baixa de 6,91%, acumulando perda de 50% no ano.
Antes, o índice FTSEurofirst 300, que reúne algumas das principais ações européias, caiu 4,9%, atingindo 829,73 pontos, o nível mais baixo em mais de cinco anos.
Em Londres, o índice FTSE 100 caiu 5%; em Paris, o Cac 40 recuou 3,54% e o Dax, de Frankfurt, fechou com baixa de 4,96%.
Em Moscou, os negócios na bolsa de valores foram suspensos pelo menos até terça-feira, depois que o principal índice, o RTS, caiu 13,68%.
Ásia
Dados de balanços de companhias também afetaram negativamente os pregões na Ásia.
Em Tóquio, o índice Nikkei da bolsa do Japão caiu 9,6%, depois que a empresa de produtos eletrônicos Sony divulgou que a previsão de lucro do ano caiu pela metade.
A valorização acentuada do iene frente ao dólar, que prejudica os exportadores japoneses, também foi apontada por especialistas como uma das razões da queda.
Na Coréia do Sul, a bolsa caiu 10,6%, com a empresa Samsung, também do setor de eletrônicos, divulgando que seus lucros terão queda de 44% no terceiro semestre.
Pessimismo na Grã-Bretanha
Na Europa, uma das principais razões do pessimismo dos investidores foi a revelação de que o PIB da Grã-Bretanha caiu 0,5% no terceiro trimestre do ano --o primeiro recuo em 16 anos.
Em entrevista ao jornal britânico Scarborough Evening News, o vice-presidente do Banco da Inglaterra, Charles Bean, deixou claro que a possibilidade de recessão (dois trimestres seguidos de encolhimento da economia) é real.
"Esta é uma crise que acontece uma vez na vida, e possivelmente a maior crise financeira deste tipo na história da humanidade", afirmou Bean.
O FMI anunciou ter fechado um acordo com a Islândia - um dos países mais afetados pela crise global - para a concessão um de empréstimo de US$ 2,1 bilhões.
Montadoras
O dia teve ainda a divulgação de balanços e previsões sombrios de outras empresas, especialmente montadoras.
A montadora francesa PSA Peugeot Citroën, por exemplo, anunciou que prevê "imensos" cortes de produção no último trimestre do ano, depois de ter registrado uma queda nas vendas de 5,2% no terceiro trimestre.
Outra montadora francesa, a Renault, anunciou que fechará quase todas as suas fábricas na França por pelo menos uma ou duas semanas para ajustar sua produção aos estoques elevados, decorrentes da queda das vendas nos últimos meses.
A montadora americana Chrysler, pelo segundo dia consecutivo, anunciou que planeja cortes de pessoal.
Desta vez, os afetados devem ser aproximadamente 18,5 mil funcionários que não trabalham diretamente nas linhas de montagem, ou cerca de 25% dos funcionários desses setores.
Commodities
Um outro sinal do desaquecimento econômico mundial tem sido a queda dos preços das commodities, especialmente o petróleo.
Preocupados com a perda de receita com a desvalorização do produto, os países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiram cortar a produção em 1,5 milhão.
Apesar da decisão, o preço do produto continuou caindo. Em Londres, o barril do tipo Brent recuou para menos de US$ 62.
Commodities importantes na pauta de exportações brasileira, como o café, o açúcar e a soja, também registraram desvalorização nesta semana.
(Folha online, com BBC, 25/10/2008)