O Ministério do Meio Ambiente deve começar, ainda neste ano, a monitorar por satélite todos os biomas brasileiros, com objetivo de combater o desmatamento. À Amazônia, da qual o Brasil capta imagens de satélite desde 1988, serão somados Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa — num total de 4,3 milhões de quilômetros quadrados, uma área maior do que a Índia e sobre a qual não há dados confiáveis a respeito da degradação florestal.
A previsão do ministério é que as informações estejam disponíveis a partir do ano que vem. Com o monitoramento por satélite, será possível elaborar com mais precisão políticas públicas de conservação ambiental.
O projeto de monitoramento dos biomas brasileiros via satélite é uma parceria entre o PNUD, o Ministério do Meio Ambiente e o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). No primeiro ano — até 31 de dezembro de 2009 —, será financiado integralmente pelo PNUD, que também será responsável pelos editais para contratação de pessoal e compra de equipamentos. No total, serão disponibilizados US$ 663.997.
O monitoramento dos biomas será iniciado pela leitura das imagens do Cerrado. De acordo com Júlio Roma, técnico especializado do ministério, esse é o bioma sob maior pressão humana depois da Amazônia. “A expansão das commodities agrícolas está acontecendo atualmente no Cerrado. Este seria o bioma sob forte impacto hoje, além da Amazônia. Só que a Amazônia já tem esse sistema de monitoramento que está sendo bastante eficiente. Por isso priorizar o Cerrado.”
A Amazônia é monitorada por dois sistemas de satélite, o PRODES (Programa de Cálculo de Deflorestamento da Amazônia) e o DETER (Detecção do Desmatamento em Tempo Real). O PRODES, implantado há 20 anos, mede a taxa anual de áreas totalmente desmatadas; como a observação é feita nos meses de seca, sem muitas nuvens, os dados são detalhados e precisos. Já o DETER, lançado em 2004, é um sistema de alertas mensais que não mede áreas desmatadas, mas lugares em que pode estar havendo desmatamento. Seus dados são menos precisos porque muitas vezes a observação é prejudicada pelas condições climáticas.
O monitoramento dos outros biomas será semelhante ao do PRODES, e terá seus dados divulgados anualmente. Serão usadas imagens do satélite chinês Cbers, do americano Langsat e do japonês Alos. A interpretação das informações ficará a cargo dos técnicos do Centro de Monitoramento Ambiental do IBAMA, que, segundo Roma, será responsável por toda a parte técnica do projeto.
Após o término do financiamento do PNUD, no final do ano que vem, o ministério vai buscar novas fontes de recurso, até ser possível incluir o gasto do monitoramento no orçamento do governo federal, afirma o técnico. “A gente não está falando de muitos recursos, então acreditamos que vamos conseguir sem grandes dificuldades. Este projeto com o PNUD é da ordem de R$ 1 milhão, só que depois que a estrutura estiver funcionando bem, os custos diminuem.”
O coordenador da unidade de meio ambiente do PNUD, Carlos Castro, não descarta possibilidade de a instituição disponibilizar recursos adicionais para o projeto, caso ele tenha sucesso. Para o coordenador, o monitoramento dos biomas extra-amazônicos é de grande importância, pois somente com este acompanhamento será possível questionar o desmatamento nessas regiões.
(Por Mariana Desidério, Envolverde/Pnud, Carbono Brasil, 23/10/2008)