Apesar de serem menos dependentes do mercado internacional, os camponeses podem sofrer diretamente os efeitos da crise financeira. É o caso dos agricultores que produzem em sistema integrado, como o de carnes e o do fumo. Estas cadeias são dominadas, em grande parte, por multinacionais. Além disso, são voltadas para exportação, atividade que vem sofrendo desgaste com a valorização do dólar. Recentemente, a Cooperativa Aurora suspendeu a construção de sua unidade de produção de frangos em Carazinho, no Norte Gaúcho, e seus investimentos em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul devido à instabilidade gerada pela crise.
O coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) Aurio Scherer alerta que a situção dos camponeses do sistema integrado é agravada pelo aumento do custo de produção, principalmente dos insumos químicos. Para não haver tanta perda, o ideal seria que o dólar se firmasse em torno de R$ 1,90. No entanto, desde que a crise estourou, a moeda norte-americana não baixa dos R$ 2,20.
"Ele [dólar] deveria se firmar em torno de R$ 1,90, R$ 2,00. Porque aí teria um equilíbrio. E certamente os produtos que nós temos e que vão para exportação seriam melhor remunerados, porque nós fomos atingidos duramente neste período agrícola da safra 2008/2009 com a explosão, o aumento do custo de produção em cima justamente do aumento do petróleo, que foi repassado aos insumos", diz.
Ainda há a situação dos produtores de leite, que segundo estimativas de mercado devem seguir amargando preços baixos nos próximos meses. O pequeno produtor é o mais atingido, já que em média recebe ainda menos das empresas do que o grande produtor. No Noroeste gaúcho, a diferença chega a ser de R$ 0,30. No entanto, avalia Scherer, a agricultura familiar deve continuar a garantir a alimentação do brasileiro.
O camponês se diz otimista com a crise financeira. Para ele, este é o momento dos governos, inclusive o do Brasil, mudarem seu modelo econômico e de desenvolvimento, como fortalecer o mercado interno para depender menos do mercado financeiro. "Esta crise profunda que estamos vivenciando poderá nos abrir a médio prazo, hoje por exemplo já temos relações comerciais com vários outros continentes", exemplifica.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 23/10/2008)