Enquanto o Aterro de Gramacho centraliza o debate na campanha eleitoral, o solo agoniza a cada nova chuva ao ponto de a Comlurb restringir a menos de 30% a área utilizável do local – percentual que, em agosto, era de 50%.
A última trinca descoberta na semana passada – a terceira este ano, recorde nos 30 anos de aterro – tinha dois metros de largura e quase 500 metros de extensão. Hoje, as 8,7 toneladas diárias de lixo se concentram apenas no centro do aterro, formando uma megapirâmide de detritos.
Não foi, porém, o ápice de instabilidade do aterro, erguido sobre um manguezal – uma camada de lodo extremamente gelatinosa – comprimido pelo lixo de seis municípios. Em 2004, a Comlurb registrou uma trinca do tamanho de um caminhão. Mas nunca com a regularidade deste ano, o que forçou a interdição de 70% do aterro.
– Estamos verticalizando o aterro – contou Ricardo Sena, coordenador da diretoria técnica e industrial da Comlurb. – Com base em métodos observacionais, vamos variando o despejo em diferentes áreas.
Solução demoradaEnquanto Gramacho agoniza, o Aterro de Paciência – se fosse aprovado hoje – só poderia ser utilizado depois de oito meses, tempo hábil para se preparar o solo. A solução, que já seria demorada, pode levar ainda mais tempo já que os dois candidatos a prefeito se disseram contra o novo aterro.
Hoje o Aterro de Gramacho possui 20 metros de espessura orgânica e está 55 metros acima do nível do mar – cota que, em 2004, estava em 36. Ninguém ousa estimar até quando o solo vai sustentar. O Rio Sarapuí – um dos mais importantes do Estado – fica a apenas 200 metros das montanhas de lixo. O risco é de haver assoreamento no rio e causar uma catástrofe na Baixada Fluminense. Para evitar a tragédia, a Comlurb criou barreiras no manguezal, fecha as trincas com argila e monitora a movimentação do solo com estacas e inclinômetros.
(Por Felipe Sáles,
Jornal do Brasil Online, 22/10/2008)