Sob controle dos operários há cinco anos, a Flaskô, em Campinas (SP) sofre até hoje com dívidas contraídas pela antiga direção.

Trabalhadores da fábrica ocupada Flaskô, de Sumaré (SP), realizam nesta quarta-feira (22), uma manifestação na Companhia Paulista de Energia Elétrica (CPFL), em Campinas contra o corte de energia e ruptura das negociações.

Sob controle dos operários há cinco anos, a Flaskô sofre até hoje com dívidas contraídas pela antiga direção, como a dívida com a CPFL, de cerca de 500 mil reais. Os trabalhadores assumiram a dívida com a empresa distribuidora de energia, mas o valor inviabilizava os pagamentos. Desde o dia 2 de setembro deste ano, os trabalhadores e a CPFL estão negociando para chegar a novos valores, mediados pela Superintendência do Ministério do Trabalho. Em reunião no dia 30 de setembro, ficou acertado que o pagamento dos valores atrasados ficaria suspenso até 27 de novembro, quando haveria nova negociação. Até lá, seria paga apenas a energia utilizada naquele mês.

No dia 17, no entanto, os trabalhadores foram surpreendidos pelo corte da energia, como relata o coordenador do Conselho da Fábrica, Pedro Santinho. "Eles descumpriram o acordo que tinham e cortaram a energia sem nos avisar. Um dos operários estava dentro de um dos moinhos, poderia ter sido uma tragédia. Fora as máquinas e os equipamentos que foram quebradas com o corte brusco", explica.

Os trabalhadores também denunciam que a CPFL vem se mostrando irredutível nas negociações. Já foi proposto que, em vez dos cerca de 30 mil reais mensais pagos somente em dívidas, os trabalhadores repassassem uma porcentagem da produção comercializada durante o mês. A empresa, porém, não aceitou. Além disso, os trabalhadores mostram-se descontentes com a falta de diálogo da CPFL que, na última segunda-feira (20), nem mesmo recebeu uma comissão da Flaskô que tentava negociar.

A fábrica está paralisada e, se não for retomado rapidamente o fornecimento de energia, os 76 trabalhadores da fábrica ficarão sem salários e sem empregos. Para Santinho, a CPFL está sendo irresponsável não apenas com a Flaskô, mas com a luta de todos os trabalhadores por emprego. "A empresa fala em responsabilidade social, mas o que se vê é que suspende o fornecimento de energia e fecha uma fábrica, deixando os trabalhadores parados, isso em um momento de crise global, onde muito mais fábricas podem fechar", diz.

No ano passado, durante intervenção na fábrica Cipla, também ocupada por trabalhadores no município catarinense de Joinville, a CPFL também interrompeu o fornecimento de energia à Flaskô, que só foi retomada após demonstrada a irregularidade da intervenção.

A Flaskô é uma fábrica de embalagens plásticas industriais que está sob controle dos trabalhadores desde 12 de junho de 2003. Desde então, foi reorganizada a produção e estabelecida uma nova jornada de trabalho de 30 horas semanais, sem redução nos salários e uma gestão baseada no Conselho de Fábrica eleito pelos próprios operários.

(Por Patrícia Benvenuti, Brasil de Fato, 22/10/2008)