Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que os aluguéis caros e a pouca oferta de habitações populares levam muitos brasileiros a não terem condições dignas de moradia. Cerca de 5,4 mi de pessoas, o que representa 3,4% da população urbana, têm gasto excessivo com aluguel. Ou seja, compromete boa parte da renda familiar com moradia, sem sobrar para a saúde, educação e lazer.
Os altos preços dos aluguéis também forçam as famílias a procurarem moradias ainda mais precárias nas periferias ou a superlotarem as casas. De acordo com o levantamento, 12,3 milhões de pessoas, o que representa 7,8% da população urbana, moram em casas com mais de três pessoas dividindo o mesmo dormitório. Para a coordenadora de Estudos Setoriais Urbanos do Ipea, Maria Piedade Morais, é necessário investir mais em moradia de aluguel e em habitações populares.
"Enquanto o mercado está indo para um nicho de imóveis de luxo, nós não precisamos disso. Estamos precisando expandir as habitações de interesse social, de recuperação de áreas centrais, urbanização de favelas", diz.
Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades em que o Ipea constatou os preços de aluguéis mais caros. Na Capital federal, 7% das famílias gastam 30% de sua renda com aluguel. Já Belém, no Pará, é a cidade em que foi registrada a maior superlotação nas moradias. Cerca de 14 milhões de brasileiros vivem em favelas ou em situação de irregularidade fundiária em áreas urbanas.
Em entrevista à Radioagência NP, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, avalia que os dados do Ipea apontam para a necessidade de uma política nacional de desapropriação de terrenos ociosos. Também reclama que grande parte das famílias de baixa renda não consegue acessar os créditos imobiliários oferecidos hoje pelo governo federal.
“Oitenta e seis por cento do déficit habitacional se concentra em famílias que ganham até três salários mínimos e a maioria dos programas existentes não envolvem essas famílias. Isso só pode ser feito com subsídio, porque essas famílias, devido a sua situação econômica, não têm capacidade de adquirir um financiamento”, diz.
A pesquisa do Ipea foi feita a partir das análises preliminares sobre os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2007 do IBGE.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 22/10/2008)