A China poderá duplicar a emissão de gases com efeito de estufa nas próximas duas décadas, de acordo com um estudo da responsabilidade de um grupo de trabalho estatal ad-hoc. E as previsões, recolhidas pela agência Reuters, apontam para um cenário cada vez mais negro no que respeita à responsabilidade dos chineses no aquecimento global do planeta.
Não há informações oficiais recentes sobre a emissão de gases com efeito de estufa, mas quer algumas investigações estrangeiras quer outros institutos dependentes do Governo de Pequim vão concluindo que a China não só irá ultrapassar os Estados Unidos como maior emissor de dióxido de carbono, como o fará mais cedo do que apontavam as últimas previsões governamentais.
Aumentos galopantes
Quando a palavra de ordem pretende ser a de reduzir as emissões dos gases que mantêm as radiações solares presas na atmosfera, o recurso da economia chinesa aos combustíveis fósseis não pára de crescer e a combustão de carvão, petróleo e gás deixam a China cada vez mais longe das metas consideradas aceitáveis.
Um relatório do ano passado do Governo chinês apontava para que, em 2050, o total de emissões por ano de gases com efeito de estufa atingisse os dois biliões de toneladas de carbono. E este relatório incluía todos os factores responsáveis pela emissão de gases para atmosfera, como, por exemplo a desflorestação.
O estudo citado pela Reuters cinge-se unicamente ao dióxido de carbono resultante da utilização de combustíveis fósseis e a previsão para 2020 é já de 2,5 biliões de toneladas de carbono, podendo ascender aos 2,9 biliões dependendo dos vários cenários de desenvolvimento tecnológico. Em 2030, as emissões podem chegar aos 3,1 biliões de toneladas de carbono ou mesmo aos 4 biliões. O total de emissões em todo o mundo em 2007 foi de 8,5 biliões de toneladas.
«A culpa é dele»
O Laboratório Nacional de Oak Ridge nos Estados Unidos já coloca a China como o país que mais carbono emitiu para a atmosfera em 2007. Os chineses terão emitido 1,8 biliões de toneladas ultrapassando os 1,6 biliões dos norte-americanos. E estes dois países prometem continuar numa disputa que os mantém longe das pretensões do Protocolo de Quioto.
A primeira fase do tratado ambiental em vigor até 2012 está a terminar e a União Europeia propôs esta semana que os países desenvolvidos reduzam entre 15 a 30 por cento as emissões de gases com efeito de estufa nos níveis habituais de produção. Mas o Protocolo não estabelece limites para os países pobres. E enquanto a China não aceitar limites, os Estados Unidos recusam-se a ratificar o Protocolo justificando que é ineficaz.
E o pingue-pongue sem fim à vista continua, pois a China defende-se dizendo que as emissões per capita relativas aos seus 1,3 biliões de habitantes são muito mais reduzidas do que as dos países ricos; atribuindo-lhes assim a grande responsabilidade do efeito de estufa na atmosfera, ao contrário de um país que, como aponta o estudo, «relativamente à redução da emissão de dióxido de carbono, tem o desenvolvimento económico como mais importante».
(Diário IOL, 22/10/2008)