A assinatura de um contrato de estudos para implantação de um estaleiro em Barra do Riacho, em Aracruz, norte do Estado, representa a expulsão dos pescadores da região, como ressaltam esses trabalhadores. Para eles, falta diálogo com a comunidade. O empreendimento já foi anunciado, mas ninguém foi ouvido. O projeto gerará ainda mais prejuízos para a região.
O empreendimento foi divulgado pelo presidente da Jurong do Brasil, Martin Cheah, o secretário de Desenvolvimento, Guilherme Dias, e o prefeito de Aracruz, Ademar Devéns.
O estaleiro será utilizado para a construção de plataformas de exploração e de produção e ao reparo naval. Ficará instalado em um milhão de metros quadrados, pertencente à Aracruz Celulose. A previsão é de que as obras iniciem em meados de 2009 e estejam concluídas até 2011. Com isso, o mercado deverá aproveitar a demanda prevista para o mercado doméstico de 156 navios, 40 sondas de perfuração e 15 plataformas.
A cada dia é maior a preocupação dos pescadores locais. Eles afirmam que a área fica próxima ao Portocel, que já gera prejuízos há mais de 10 anos às comunidades.
“O povo aqui é muito humilde, eles trazem uma indústria, um porto e agora um estaleiro. Estão oprimindo a comunidade tradicional. Já não temos meios de sobreviver. Se eles ainda destroem tudo, daqui a pouco não haverá mais população pesqueira aqui”, ressaltou Herval Nogueira Júnior, que trabalha e mora na região.
Segundo a Associação de Pescadores da Barra do Riacho, a comunidade já perdeu a praia da Conchinha, sempre utilizada pelas crianças por ser plana e com águas calmas, e que agora foi ocupada pelo Portocel.
Os pescadores destacam que a comunidade está perdendo tudo o que um dia foi patrimônio da população, sem que haja, ao menos, uma discussão com a comunidade.
Eles informam que nenhuma audiência pública foi feita até o momento para discutir o novo empreendimento e levantam preocupação com esse tipo de empreendimento, já que um estaleiro é pra reforma de barcos, portanto, os barcos já virão com problema, gerando ainda mais poluição.
Ao todo, a Jurong Brasil pretende gastar R$ 500 milhões para a instalação de um estaleiro em Barra do Riacho e a previsão é que os estudos fiquem prontos até dezembro deste ano.
A empresa é uma gigante do setor naval de Cingapura, com receita anual de US$ 2 bilhões. Ao todo, atua no Brasil há 14 anos e a operação no Estado é a quarta da empresa no exterior, depois de Estados Unidos, China e Oriente Médio.
Cerca de um terço das ações da Jurong Shipyard pertencem ao governo de Cingapura. É considerada uma das maiores construtoras de plataformas de perfuração em águas profundas do mundo. Mais de 60% das plataformas operantes na Bacia de Campos foram construídas pela Jurong.
As negociações da Jurong no Estado foram iniciadas em maio de 2008, quando o governador Paulo Hartung e o secretário Guilherme Dias visitaram a empresa em Cingapura.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 21/10/2008)