Recentes na história da agricultura e ainda com algumas barreiras ideológicas no Brasil, os produtos agrícolas transgênicos passaram a ser comercializados em 1995. Utilizados em 23 países, os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) já ocupam quase 10% da área plantada no mundo, e seu avanço pode ser identificado, principalmente, nos países de maior vocação agrícola.
Os Estados Unidos empregam sementes transgênicas em 32% de sua área agrícola. Na Argentina, mais da metade das terras cultivadas foi tomada por soja, milho e algodão geneticamente modificados. O Brasil, nessa questão, é visto como uma grande fronteira a ser conquistada.
Especialistas comentam que o Brasil, apesar de líder em pesquisa biotecnológica e terceiro maior produtor mundial de alimentos transgênicos, sofreu, nos últimos dez anos, uma “moratória branca” devido a entraves burocráticos, regulatórios e político-ideológicos que atrasaram, de forma significativa, a adoção em larga escala de cultivos de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Além desses obstáculos, os apregoados avanços da Ciência esbarram ainda em questionamentos de ordem ética, que criam polêmicas e dividem a opinião da sociedade.
No entanto, de acordo com o pesquisador Edilson Paiva, do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo da Embrapa, estudos recentes, realizados por entidades internacionais, demonstraram que, em doze anos de cultivo, as lavouras transgênicas mostraram-se tão seguras à saúde humana, animal e ao meio ambiente quanto as suas versões convencionais.
“Os OGMs proporcionaram uma diminuição global no uso de defensivos agrícolas e no índice de impacto ambiental, resultando, ainda, em benefícios agrônomos, sociais, nutricionais e econômicos”, colocou Edilson a AmbienteBrasil.
Para o especialista, cultivos geneticamente modificados como os de milho, soja e algodão são tolerantes a herbicidas, resistentes a insetos e têm vantagens agronômicas. “A utilização dessa tecnologia nos sistemas de plantio direto na palha e em sistemas de cultivo com vistas a integrar lavoura e pecuária diminuirá custos, riscos e aumentará a produtividade, porque proporcionará ao agricultor maior flexibilidade de gerenciamento”, diz.
Para examinar a segurança dos OGMs, foi criada, em junho de 1996, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Recentemente, a CTNBio aprovou mais quatro variedades de transgênicos: duas de milho e uma de algodão, e uma vacina para suínos, contra a circovirose suína.
Em entrevista ao portal, Paulo Barroso, do Centro Nacional de Algodão da Embrapa, em Mato Grosso, disse que a liberação desses produtos representa um avanço nas discussões dentro da CTNBio. “Mesmo existindo ainda um impasse financeiro-ideológico, as decisões de produtos transgênicos pela CTNBio possuem, atualmente, um caráter mais técnico, de questionamentos mais relevantes para o avanço do setor, e isso representa um grande passo”, coloca Barroso.
Na avaliação desses especialistas, diante da ameaça mundial de escassez de alimentos, para uma população que cresce em ritmo acelerado, o ciclo de oferta barata e abundante parece ter atingido o seu ápice.
“Nesse contexto, é condição obrigatória que os países provedores de alimentos e de tecnologias modernas permitam diminuir custos e aumentar, de forma sustentável, as áreas de produção e a produtividade das commodities agrícolas. E, dentro dessa perspectiva, destacam-se, sobremaneira, os produtos geneticamente modificados”, defende Edilson Paiva.
Questionamentos
Tais defesas em relação aos cultivos transgênicos não vêm sendo capazes de tranqüilizar – ou convencer – boa parte da comunidade ativista ambiental, nem tampouco os principais movimentos brasileiros que agrupam pequenos produtores e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), todos em posição contrária à alternativa.
Um argumento freqüente de representantes desses segmentos é que a utilização de produtos transgênicos na agricultura brasileira constitui-se, em primeiro lugar, num fator de dominação econômica, das multinacionais e dos grandes investidores rurais, sobre os pequenos produtores.
Ainda segundo a Contag, nada está comprovado cientificamente a respeito dos riscos que os transgênicos podem causar à saúde de seres humanos e animais, bem como ao meio ambiente. Para a Confederação, não há, por exemplo, provas suficientes de que alimentos produzidos com alteração genética não tornem o corpo humano mais vulnerável a doenças.
De acordo com ambientalistas do Greenpeace, entre as possíveis conseqüências do uso de transgênicos ao meio ambiente estão o empobrecimento da biodiversidade, a eliminação de insetos benéficos ao equilíbrio ecológico, o aumento da contaminação dos solos e corpos d'água devido à intensificação do uso de agrotóxicos e o desenvolvimento de plantas e pragas resistentes a uma ampla gama de antibióticos e agrotóxicos, entre outros.
(Por Fernanda Machado, AmbienteBrasil, 21/10/2008)