O plano europeu de combate às alterações climáticas “precisa de alterações profundas”, declarou hoje a ministra italiana do Ambiente, Stefania Prestigiacomo, à chegada ao Luxemburgo, onde se vai reunir com os seus homólogos europeus no Conselho de Ambiente, o primeiro da presidência francesa.
“O documento, tal como está, não nos convém. É insuportável. Precisa de alterações profundas”, afirmou aos jornalistas pouco antes do início da reunião de dois dias, que começou hoje. “E não estamos sozinhos nesta posição. Isso é notório”, salientou ainda.
“Vamos pedir uma cláusula de revisão. Esperamos que se abra uma verdadeira linha de negociação”, acrescentou, sublinhando que a Itália vai à reunião com “boas intenções”.
A União Europeia quer reduzir 20 por cento das suas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2020, chegar aos 20 por cento de energias renováveis e 20 por cento de eficiência energética. Esta já é conhecida em Bruxelas como a visão 20/20/20, meta da Comissão Europeia adoptada pelos líderes dos 27 em Março. O problema não é o fim, são os meios para lá chegar.
A Itália considera que o custo do plano europeu para a economia nacional é da ordem dos 25 mil milhões de euros por ano, uma quantia já contestada pela Comissão Europeia, que fala antes de entre nove e 12 mil milhões de euros.
A crescente pressão de diferentes Estados membros pode pôr em causa o plano, o que será um rude golpe para o ambiente e para a economia da União Europeia, alerta a eurodeputada do Partido Os Verdes, Caroline Lucas, numa opinião publicada hoje no site do jornal britânico “The Guardian”.
Oito novos países membros, liderados pela Polónia, receiam as consequências económicas do plano e ameaçam vetá-lo. Mas as reticências italianas e destes novos países não são as únicas. Também a poderosa indústria alemã de automóveis não está muito entusiasmada com a obrigação de reduzir emissões dos novos carros.
“A presidência francesa parece estar a dirigir um acordo baseado no mínimo denominador comum, dando a cada Estado membro a possibilidade de pedir tratamento especial. Esta posição é claramente destinada a fazer com que o Parlamento Europeu aceite o plano a qualquer custo”, comenta Carolina Lucas.
Na semana passada realizou-se em Bruxelas uma cimeira dedicada, em parte, ao clima. Na altura foi acordado continuar as negociações, com a condição de que sejam levadas em conta as situações específicas de cada país e que a decisão final seja tomada por “unanimidade” pelos chefes de Estado e de Governo na próxima cimeira, a 11 e 12 de Dezembro, em Poznan.
Um fracasso europeu poderá deitar por terra a credibilidade e ambição europeias de liderar as negociações para o programa internacional sucessor de Quioto, que deverá ser adoptado em Copenhaga, no final do próximo ano.
(Ecosfera, AFP, 19/10/2008)