Ambientalistas que participaram do Encontro Latino-americano de Comunicação e Sustentabilidade, iniciado na quinta-feira (16) em São Paulo, falaram sobre as dificuldades para se manter a floresta amazônica em pé, diante de empreendimentos e atividades econômicas que foram implementados na região.
João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru, que atua no Pará, incentivando a produção sustentável local, afirmou que a maior causa da devastação da Amazônia é a pecuária, responsável por 80% do desmate. Segundo ele, a justificativa de que proibir essa atividade econômica na região levaria ao desemprego não é plausível, visto que são poucas as vagas de trabalho decorrentes dessa produção, que são oferecidas à população local.
"85% dos habitantes da Amazônia nunca tiveram emprego formal, e 30 mil comunidades tradicionais hoje passam fome, ainda que haja gado na região. Os poucos empregos gerados com essa prática não compensam o estrago da floresta", afirmou.
Ainda segundo Meirelles, há recursos financeiros e tecnológicos disponíveis para que se retirem os rebanhos da Amazônia, mas falta educação ambiental para tanto. Ele embasou sua afirmação, apontando que custaria 70 bilhões o fim da pecuária amazônica, enquanto a companhia Vale do Rio Doce investirá 20 bilhões no estado do Pará, somente neste ano.
Caio Magri, assessor de políticas públicas do Instituto Ethos e integrante do Fórum Amazônia Sustentável, concordou, e propôs que haja uma moratória na produção pecuária na região, até que a sociedade encontre alternativas às perdas de geração de renda decorrentes dessa medida.
Magri também informou que todos os grandes colapsos econômicos que já ocorreram na Amazônia, ou seja, ciclos de produtos, como borracha, madeira, gado e soja, trouxeram instantâneas e passageiras melhorias do IDH da população local, sem que se mostrassem atividades sustentáveis e includentes ao longo do tempo.
"É preciso criar alternativas à produção de bugigangas que pagam royalties internacionais na Zona Franca de Manaus, buscando-se perspectivas para um novo modelo de industrialização e tecnologia sustentável e justo", disse Magri.
O ambientalista acrescentou que o maior desafio da região, hoje, é encontrar formas de conciliar empreendimentos de mineração com a sustentabilidade na Amazônia. Nesse sentido, o Fórum Amazônia Sustentável tem buscado mediar um diálogo entre empresas, como Alcoa, Petrobrás e Vale do Rio Doce, instaladas no território amazônico e as comunidades locais.
Outra questão crítica, segundo Magri, é a ausência de critérios para concessão de financiamento por bancos, como BNDS e Banco da Amazônia, que têm dado incentivo à implantação de atividades insustentáveis na região amazônica.
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Amazonia.org.br, 20/10/2008)