O ministro Mangabeira Unger reuniu-se sexta-feira, 17 de outubro, em Belém, no Museu Emílio Goeldi, com lideranças extrativistas, entidades da sociedade civil, órgãos de governo e pesquisadores, para discutir uma proposta de soerguimento do extrativismo na Amazônia. Reafirmou que considera a Amazônia um lugar privilegiado para repensar o Brasil, e que o extrativismo acumula experiências e história para alavancar um ciclo de desenvolvimento sustentável na região.
Para o ministro, o extrativismo tradicional convive com subsídios de um lado e sanções de outro, sendo necessário superar o atual nível artesanal da atividade, a partir de três componentes: Ciência e Tecnologia (C&T), economia de escala e desenho institucional - este a ser implementado entre o poder público (governos), o setor empresarial e as populações tradicionais. Como processo, avalia que é necessário aprofundar o ideário na abordagem do soerguimento que propõe, construir iniciativas práticas exemplares e viabilizar uma dinâmica produtiva do extrativismo, com ênfase em duas vertentes: conexão da pulverização do extrativismo desenvolvido pelas populações tradicionais, com a economia de escala, e estímulo a iniciativas de grande escala, apoiadas pelo Estado, a exemplo da fábrica de preservativos de borracha natural, do Acre. O ponto de partida dessa estratégia, segundo o ministro, exige uma inversão da lógica até agora adotada pelos que vêm enfrentando esse desafio, fundamentada no encontro das práticas tradicionais com C&T: 1. Organização do mercado, 2. Beneficiamento (agregação de valor) e 3. Financiamento.
Mangabeira recebeu apoio de todas as entidades presentes, à sua proposta, e ouviu de lideranças, como Júlio Barbosa e Atanagildo de Deus (o "Gatão"), e assessores como Mary Allegretti e a professora Bertha Becker, que há territórios (27% da região) e recursos naturais para implementação da proposta de soerguimento, como resultado de um ideário da sociedade civil organizada (movimento social dos seringueiros), transformado em política pública.
No que concerne a iniciativas práticas exemplares, para alavancagem do processo de revitalização proposto, o ministro foi informado da experiência que Amigos da Terra-Amazônia Brasileira tem acumulada na área de apoio a negócios sustentáveis na região, e de que a entidade dispõe de um banco de dados organizado sobre mais de 400 pequenos empreendimentos florestais, disponível para subsidiar a iniciativa em discussão.
Ao final do encontro, ficou decidido que as referências trazidas à discussão serão sistematizadas para circulação; que é necessário eleger os pontos de estrangulamento em nível setorial, para superação dos gargalos mais importantes até agora enfrentados, e que as entidades presentes passam a compor uma rede voltada para o soerguimento do extrativismo na Amazônia.
Por coincidência, também em 17 de outubro de 1985, aconteceu o I Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília, que marcou o início de um processo que culmina, 23 anos depois, com uma possível retomada, no âmbito governamental, da pauta de reivindicações dos Povos da Floresta, encaminhada às diferentes esferas do poder público naquele então.
(
Amazonia.org.br, 20/10/2008)