A crescente batalha contra doenças crônicas é um dos maiores problemas enfrentados pela China, em um cenário que tende a piorar muito no futuro.
Segundo estudo publicado na The Lancet, divulgado neste domingo (19/10), a prevenção deve estar no centro das atenções na batalha com as doenças crônicas, se o país quiser parar a “bomba-relógio na saúde e na economia” associada a tais condições.
O artigo, parte da série publicada pela revista sobre a necessidade de reformar o sistema de saúde chinês, foi escrito por Gonghuan Yang, do Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China, e colegas. Segundo eles, o excesso de gordura, sal e fumo e a falta de atividade física são os maiores responsáveis.
A expectativa de vida no gigante asiático aumentou grandemente de 1950 a 1990, devido principalmente ao sucesso no combate a doenças infecciosas. Mas, desde 1990, as taxas pararam de aumentar. A estagnação, destacam os autores, deve-se à emergências de doenças crônicas.
Mortes por doenças vasculares, doenças pulmonares obstrutivas e câncer aumentaram drasticamente. Enquanto em 1973 as doenças crônicas correspondiam a 47,1% do total de óbitos, em 2005 o valor subiu para 74,1%.
Segundo o estudo, os dois principais fatores responsáveis por tamanha mudança são a própria elevação na expectativa de vida, com o envelhecimento da população, e, principalmente, o aumento nos comportamentos considerados de risco.
Um dos principais é o fumo. Os pesquisadores destacam que um terço dos fumantes no planeta está na China. No país, apenas 5% das mulheres fumam, devido a tabus sociais associados ao hábito, mas 60% dos homens fazem uso de cigarro.
“Se os padrões atuais forem mantidos, nada menos que 100 milhões de homens chineses morrerão de causas ligadas ao hábito de fumar entre 2000 e 2050”, destacaram. “É chegada a hora de homens e mulheres abraçarem a visão de uma China livre do fumo.”
O estudo também destaca que o rápido desenvolvimento econômico estimulou o aumento de 25% na ingestão diária de gordura nas dietas dos habitantes de centros urbanos de 1982 a 2002. Nos moradores de áreas rurais, o aumento foi ainda maior: 100%. O consumo de carne também aumentou, enquanto o de cereais caiu. O resultado, segundo a pesquisa, foi a elevação nos riscos de doenças cardiovasculares e de câncer.
Cerca de 177 milhões de adultos no país – e 18 % de todos os homens – têm hipertensão, causada principalmente, segundo a pesquisa, pelo consumo elevado de sal (mais de 12 gramas por dia). E, apesar de a média de ingestão diária de calorias ter permanecido praticamente constante entre 1982 e 2002, o aumento da obesidade no país implica que os níveis de atividade física diminuíram no período.
O estudo será um dos destaques da terceira edição do Lancet Asia Medical Forum, que será realizado de 14 a 16 de novembro em Pequim.
O artigo Emergence of chronic non-communicable diseases in China, de Gonghuan Yang e outros, pode ser lido por assinantes da The Lancet.
(Agência Fapesp, 20/10/2008)