Segundo presidente-executivo, fusão pode voltar com controle da crise.
‘Valores pactuados poderão ser revistos’, disse.
A Votorantim Celulose e Papel (VCP) suspendeu o plano de fusão com a Aracruz. A suspensão foi anunciada na sexta-feira (17), em teleconferência com acionistas, quando também foi divulgada a interrupção da contratação de uma linha de crédito de US$ 1,8 bilhão, que seria obtida junto ao JPMorgan e seria usada para concluir a operação, informou o presidente-executivo da VCP, José Luciano Penido.
Penido afirmou que a fusão vai prosseguir quando acharem “que voltou a haver uma racionalidade no mercado financeiro internacional e que os acionistas possam voltar a sentar e reendereçar a questão dos valores razoáveis para este negócio dentro do novo modelo econômico".
O executivo afirmou que a VCP não tem obrigação de prosseguir com a compra da participação da Aracruz sob as atuais condições (o negócio foi adiado por prazo indeterminado) e que acredita que os "valores pactuados poderão ser revistos para refletir a realidade do mercado". Eventuais multas a serem aplicadas caso ocorra uma desistência vão ser responsabilidade da Votorantim Industrial e não da VCP, afirmou.
Na sexta-feira, a VCP anunciou o balanço do terceiro trimestre deste ano, um prejuízo de R$ 586 milhões. No mesmo período do ano passado, a empresa havia registrado lucro líquido de R$ 278 milhões.
A Aracruz também fechou um terceiro terceiro trimestre tumultuado com prejuízo de R$ 1,64 bilhão, frente a um lucro líquido de R$ 260 milhões registrado no mesmo período do ano passado, segundo anúncio da empresa também feito na sexta-feira.
Negócio
A VCP tinha acertado em 23 de setembro carta de compromisso com o JPMorgan de financiamento para a compra de participação na Aracruz dentro da operação de união das companhias.
A empresa chegou a tomar um hedge de US$ 600 milhões para se proteger de riscos de variação cambial decorrentes do financiamento e acabou liquidando a operação via marcação a mercado depois que a Aracruz divulgou no final de setembro forte exposição a derivativos cambiais que na época tinham valor justo de cerca de R$ 1,95 bilhão negativos.
"Esse hedge de US$ 600 milhões estava vinculado ao empréstimo que seria tomado no dia 6 de outubro junto ao JPMorgan para o pagamento da operação, que não foi feito, então a VCP desfez a operação em 6 de outubro", disse o executivo, respondendo perguntas apenas de analistas reunidos em teleconferência.
"Nós não tomamos o empréstimo, foi negociada uma carta de compromisso com o JPMorgan para, na eventualidade de termos de prosseguir com a operação, nós termos garantido todo o financiamento da operação. Essa carta não se traduziu em contrato até porque o JPMorgan levantou cláusula de mudança material adversa e com isso esse contrato não prosseguiu", disse Penido, esclarecendo que a cláusula foi levantada por causa das perdas da Aracruz com derivativos.
Segundo a companhia, quando a negociação com a Aracruz avançar, e não há prazo para isso, a empresa estudará alternativas de financiamento necessárias.
Mercado
Apesar do cenário de acúmulo de estoques de celulose causado pela contenção de compras de clientes impactados pela crise financeira internacional, a VCP mantém sua previsão de vendas de 1,2 milhão de toneladas do produto em 2008.
"Esse acúmulo de celulose no mercado, nos próximos três a quatro meses deve se diluir até porque, além da restrição de oferta de alguns produtores, haverá anúncio de fechamentos definitivos de plantas de celulose principalmente na Escandinávia", disse Penido.
(G1, 18/10/08)
Com informações da Reuters