O Centro de Estudos do Desenvolvimento Econômico (Cede), do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, organizou na tarde desta quinta-feira (16/10), na sala 23 do pavilhão da pós-graduação, uma palestra com o economista José Otamar de Carvalho. Ele falou sobre o tema “O Projeto de Transposição de Águas do São Francisco e a Renovação dos Fluxos de Água do Semi-árido Nordestino”. Assunto polêmico, a transposição do São Francisco é, para Otomar, uma questão que não tem solução.
Sobre a palestra, ele foi bem enfático ao dizer “não vou tentar nunca lhe convencer a ser a favor, mas vou dar elementos sobre o que significa a transposição para uma determinada área do semi-árido nordestino. E vou fazer isso considerando a questão do desenvolvimento na área”, disse. Confira a entrevista de José Otomar ao Portal da Unicamp.
Portal – É importante fazer a transposição do São Francisco?
Otomar – Eu acho que é importante porque fazer a transposição não significa, como muita gente pensa e pergunta, se a transposição vai resolver os problemas da seca. Não vai resolver, mas vai ajudar a resolver boa e considerável parte desses problemas. Como? Viabilizando a movimentação da água, fazendo com que estoques de água por suportes ou estruturas que tenham um estoque potencial determinado, passem a ter um estoque efetivo pela movimentação da água. A transposição vai permitir que águas se movimentem. É um projeto que, além de todas as suas complicações de engenharia e economia, põem as águas disponíveis em movimento e com maior eficiência para uso animal, humano, agrícola, industrial ou o próprio uso para atender a chamada demanda ecológica.
Portal – Como avalia a polêmica sobre a transposição?
Otomar – Eu acho que tem várias razões. Uma delas, em primeiro lugar, é que tem gente que fala do que não sabe só porque ouviu dizer. Muita gente acha que o bispo de Barra (BA), Dom Luís Flávio Cappio, que é uma figura extraordinária como pessoa, só porque ele é contra, você também tem que ser. Porque determinadas figuras da área técnica são contra, apresentam determinados argumentos e vai você que não conhece o assunto e fica em dúvida. Então, se você não tem informação pode optar por sim ou não, e não tem meio. Aqui a virtude não está no meio. A virtude estaria no meio se o projeto tivesse sido concebido formalmente para ser construído de forma modulada, como de fato passou pelas discussões durante algum tempo. O que isso significa? Significa dizer que o projeto da transposição não está começando agora. A transposição de águas do São Francisco para o nordeste setentrional começou com uma obra chamada Açude Oróz, uma peça importante desse projeto. Outra peça importante é o Açude Castanhão, no Ceará. Porque são bacias, barragens de acumulação e passagem de água. Isso elevado a uma amplitude maior significa dizer que a água vai ser captada para pôr em movimento águas que estão paradas. Tem outras pessoas que são contra o projeto em virtude de postura ideológica. No entanto, não é por sentimento que se toma uma posição dessas. É em função de uma necessidade, que tem a ver com o desenvolvimento. O ambientalista completamente verde não quer saber do desenvolvimento, ele quer saber de um determinado tipo de desenvolvimento que é dos recursos naturais, da manutenção do status quo. Por exemplo, conheci a Unicamp em 1980 e não tinha um décimo do que tem hoje. Então, o impacto da Unicamp no meio ambiente deve ter sido muito grande. Você acha que foi errado terem ampliado a Unicamp?
Portal – Quanto tempo esse projeto levará para ser totalmente implementado?
Otomar – Esse projeto, assim como todos semelhantes, leva muito tempo. O tempo de execução de qualquer empreendimento de captação, armazenamento e distribuição de água depende do grau de desenvolvimento do país. Nos Estados Unidos, por exemplo, só começaria se tivesse sido aprovado pelo Congresso Nacional. Não existe solução para o desenvolvimento que não provoque problemas e temos que correr atrás. A melhoria de gestão existe para essas coisas.
(Jornal da Unicamp, 16/10/2008)