Representantes de três populações indígenas do Nordeste brasileiro levaram segunda e terça-feira, ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, sua "campanha de paz" em defesa de seu direito à terra e contra o aquecimento global, pedindo à Europa "respostas imediatas" para suas comunidades. "Queremos despertar uma consciência não apenas para a violação dos direitos humanos, mas também para a violência contra o planeta Terra e a mudança climática que está causando fome e miséria. Nós, os povos indígenas, somos os primeiros a sofrer com isso", declarou a estudante de Direito Yakuy, de 46 anos, representante da comunidade Tupinambá, que fica na Bahia.
"Precisamos de projetos conjuntos para desenvolver nossos saberes e garantir a sustentabilidade e a segurança alimentar. Também precisamos de campanhas para frear o consumo desnecessário que leva a produzir mais e a esgotar as riquezas naturais", acrescentou Yakuy.
A viagem de Yakuy, Atia (da comunidade Pankararu) e Ayrá (da comunidade Kariri-Xocó) pela Europa começou em 25 de setembro e vai até final de outubro. Fazem parte do grupo uma ONG brasileira e algumas associações francesas. Como parte de sua agenda em Bruxelas, os representantes indígenas participaram de um debate na Subcomissão de Direitos Humanos e na Comissão Temporária de Mudança Climática na Eurocâmara, onde receberam o apoio de vários eurodeputados. "As comunidades indígenas dependem dos recursos naturais e da biodiversidade, e seu meio ambiente se vê especialmente afetado pela produção de biocombustíveis e de energia hidrelétrica", afirmou a eurodeputada eslovena Romana Jordan.
Se a luta contra o aquecimento global e o avanço dos biocombustíveis e das monoculturas é um dos objetivos da campanha na Europa, Yakuy lembrou que as comunidades também precisam de "respostas imediatas" para problemas há tempos sem solução: acesso à terra, soberania alimentar, reconhecimento de sua cultura e educação diferenciada. Para os três representantes indígenas, o problema da propriedade da terra é fundamental, já que, atualmente, muitos dos povos autóctones brasileiros "vivem em campos de concentração", distantes uns dos outros e sem "comunicação suficiente", o que os impede de se unir para lutar por seus direitos.
Nesse sentido, criticaram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que "não está cumprindo a demarcação de terras" que havia prometido, em função "das pressões muito grandes de setores econômicos interessados nas riquezas naturais" das zonas nas quais vivem os povos autóctones. Segundo os representantes indígenas, estima-se que convivam, no Brasil, cerca de 240 etnias que falam 180 línguas. Seu número total varia de 350.000 a um milhão de pessoas, dependendo da fonte de consulta. A comunidade Tupinambá é integrada por pelo menos 6.300 nativos; os Kariri-Xocó, por 2.500; e os Pankararu, por 7.000.
(France Presse / G1, 14/10/2008)