Depois de uma série de conflitos que causaram até mortes na área da multinacional Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, a cerca de 520 quilômetros de Curitiba, no oeste do Paraná, a empresa decidiu doá-la ao governo do Estado para que o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) coordene pesquisas nas áreas agrícola e florestal, com ajuda das universidades estaduais. A empresa tinha retomado a posse do imóvel em junho, quando se encerraram as pendências jurídicas com o governo estadual, que chegou a publicar até decreto de desapropriação.
"Acreditamos que essa parceria trará benefícios para o produtor rural preocupado com a sustentabilidade da atividade agrícola e consciente da importância da preservação das florestas", disse o presidente da Syngenta Seeds, Gilson Moleiro, em texto divulgado pela empresa. "É reconhecida a contribuição que o Iapar traz para a agricultura por meio de seus programas de pesquisa e optamos pela doação, pois estamos certos de que a nova função determinada para a área trará desenvolvimento aos agricultores do Paraná."
O terreno, vizinho ao Parque Nacional do Iguaçu, tem 123 hectares. Era usado para pesquisas com transgênicos desde 1998. Os problemas começaram em 14 de março de 2006, quando o Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiu a área. A partir daí houve uma série de processos judiciais, que resultaram em retiradas dos sem-terra e reocupações em seguida. A situação se complicou em 21 de outubro do ano passado, quando seguranças tentaram retomar a propriedade. Houve confronto e morte de um segurança e de um sem-terra.
O diretor corporativo da Syngenta, Valter Brunner, disse que a empresa não utilizava aquele espaço desde a primeira invasão, transferindo as pesquisas para outras unidades. Na assinatura do documento de doação, o governador Roberto Requião (PMDB) anunciou que o primeiro produto a ser multiplicado é uma semente de feijão altamente produtiva.
"O Paraná vai produzir sementes para os nossos agricultores e vai produzir também para que possamos enviar sementes à Jamaica, ao Haiti e a Cuba, que foram devastados pelos últimos furacões", acentuou. "O Paraná se opõe à transgenia, mas não esconde o respeito que tem pelos que produzem sementes, os que pesquisam isso há muito tempo."
Por nota, o MST disse acreditar que a doação é resultado "da luta incansável e da resistência dos camponeses". O governador paranaense reconheceu que a pressão feita pelos sem-terra foi importante: "A pressão sempre é positiva. Eu não diria a mesma coisa da invasão."
(Por Evandro Fadel,
O Estado de S. Paulo, 15/10/2008)