Até 2060 a atividade de pesca pode acabar no mundo. Esse é o alerta de uma pesquisa publicada na revista científica Science, que chama a atenção para o perigo de as populações viáveis de peixes serem extintas em 50 anos, caso a pesca descontrolada continue crescendo no ritmo atual.
Um relatório publicado pelo Banco Mundial e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) também adverte que a pesca em excesso já é uma dos maiores ameaças à biodiversidade marinha, fazendo com que peixes de grande valor comercial, como o atum e o bacalhau, não se reproduzam em volume suficiente para a manutenção das espécies.
No Brasil, o Greenpeace realizou uma pesquisa com 40 especialistas e concluiu que a sobrepesca e a captura acidental de espécies, agravada pela ausência de preocupação com o setor, estão entre as quatro questões prioritárias para gestão marinha no país.
No relatório "À deriva - Um panorama dos mares brasileiros", o grupo explica que a situação é complicada e pode ficar insustentável, impossibilitando a utilização adequada dos recursos marinhos.
“O Brasil não possui uma política nacional que aborde de maneira integrada as questões relacionadas aos oceanos. Diversos órgãos públicos têm atribuições na área, muitas vezes com conflitos e sobreposição de funções”, informa o documento.
O Greenpeace percebeu que a população se mostra desinformada sobre a importância do bioma e os problemas que o afetam, além disso, os resultados do pequeno volume de pesquisas científicas sobre o ambiente marinho permanecem distantes da sociedade e não são levados em conta pelos tomadores de decisão, afirma o relatório.
O problema é agravado pela falta de cumprimento da legislação existente, considerada arcaica e confusa pelo Greenpeace. A fiscalização também é precária.
Dados da FAO apontam que, em 2005, 76% dos recursos pesqueiros mundiais estavam plenamente explotados (pescados em seu limite de reposição natural), sobre-explotados (pescados além de seu limite de reposição natural, o que leva ao declínio na quantidade de indivíduos) ou em situação de recuperação.
“No Brasil, essa crise atinge contornos ainda mais dramáticos, com 80% dos recursos pesqueiros economicamente explorados nessa situação, agravada pelo desconhecimento da população sobre o problema”, avalia a pesquisa.
O Greenpeace defende que a principal solução para salvar os oceanos é a criação de reservas marinhas, onde não haja pesca, ou unidades de conservação sustentável, onde a pesca seja feita de maneira sustentável. “Em ambos os casos, a biodiversidade fica protegida dos impactos da ação humana”, argumenta. Entretanto, apenas 0,4% dos mares nacionais estão protegidos em unidades de conservação federais, e boa parte delas não foi implementada adequadamente – algumas nem mesmo saíram do papel.
A pesquisadora do projeto “Sea aroud us” (Mar ao nosso entorno, na tradução livre) Jennifer Jacquet concorda que a preservação é a melhor maneira de garantir a saúde dos oceanos para as futuras gerações. “Se pararmos de pescar, os peixes irão se recuperar. Mas, neste momento, há simplesmente muitos esforços a favor da pesca e poucos para a preservação dos oceanos”, entende.
Ela lembra que menos de 1% dos mares são fechados para a pesca, enquanto 12% do meio ambiente terrestre estão sob proteção. “Nós precisamos de menos incentivos à pesca e mais reservas marinhas. E precisamos rápido”.
Jacquet deixa claro que as restrições devem ser aplicadas às grandes empresas de pesca comercial, pois considera os pescadores de pequena escala a melhor esperança para a sustentabilidade na atividade. “Eles quase não descartam peixes, não os transformam em iscas e não utilizam tanto combustível. Além disso, costumam gerar mais empregos do que o setor industrial”.
A pesquisadora critica os subsídios fornecidos às grandes indústrias pesqueiras em todo o mundo, que abocanham a maior parte dos 30 bilhões de dólares destinados ao setor anualmente. “Isto acontece porque os proprietários de barcos de pesca industrial têm acesso aos políticos”, explica. E acrescenta que muitos desses subsídios, como o de combustível, facilitam a ida de navios para o mar, transformando em rentável uma atividade que de outra forma não geraria lucros. “Isso também ajuda a manter os preços dos frutos do mar artificialmente baixos e a demanda alta”.
Ela admite que a eliminação dos subsídios à pescaria predatória poderia significar aumento no preço do peixe e redução da demanda, mas argumenta que atualmente o preço dos pescados não reflete a real escassez.
(Por Sabrina Domingos, Envolverde, Carbono Brasil, 14/10/2008)