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ongs ambientalistas shell conservação da biodiversidade
2008-10-15

O antigo provérbio latino Pecunia non olet (dinheiro não faz mal) vem sendo utilizado através dos tempos para justificar todo tipo de negócio. Mas, quando a missão de uma organização é proteger o meio ambiente, deve estudar cuidadosamente de onde provêm os fundos. Esta parece ser a mensagem que persegue a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que encerrou ontem (14/10), em Barcelona, seu congresso mundial iniciado no último dia 5.

Em outubro de 2007, a IUCN assinou um acordo com a Royal Dutch Shell para melhorar o desempenho desta gigantesca empresa petroleira em matéria de conservação da biodiversidade, e, ao mesmo tempo, fortalecer a capacidade da rede de influir em grandes corporações para que assumam maiores compromissos ambientais. A questão é muito delicada. Não por casualidade a relação entre IUCN e empresas multinacionais foi o tema da primeira pergunta feita aos três candidatos à presidência da organização em seu primeiro debate, na sexta-feira.

O acordo com a Shell, pela qual a IUCN recebe da empresa pelo menos US$ 1,2 milhão de livre disponibilidade para custear seus gastos operacionais institucionais, agora é duramente criticado. Várias organizações internacionais integrantes dessa rede ambientalista exigem que o contrato seja cancelado e apresentaram uma moção nesse sentido. A moção 107, apresentada pelos grupos Amigos da Terra Internacional, Pro Natura, Centro de Direitos Humanos e Meio Ambiente, da Argentina, e Sociedade Holandesa para a Natureza e o Meio Ambiente, cobra da diretora-geral da IUCN, Julia Marton-Lefèvre, que ponha fim ao acordo com a Shell.

“As operações passadas, presentes e futuras da Shell têm um efeito social e ambiental enormemente negativo”, e além do mais esta companhia “tem uma reputação muito ruim no tocante ao tratamento que dispensa às comunidades” afetadas pela exploração de petróleo, diz a moção. De fato, apesar dos esforços dos últimos anos para “pintar de verde” sua identidade corporativa, a reputação da Shell em matéria ambiental não melhorou muito. Por exemplo, esta empresa continua queimando gás na Nigéria, especialmente no delta do rio Níger, apesar da promessa de eliminar gradualmente esta prática.

Além disso, os críticos do acordo recordaram que a companhia anglo-holandesa não só rejeita o plano da União Européia para reduzir as emissões de dióxido de carbono emitido pelas empresas do bloco como, também, investe cada vez mais na exploração altamente contaminante de areia betuminosa no Canadá e projeta realizar prospecções petroleiras na zona do Ártico. Em resposta às acusações, a secretária da UICN disse que encerrar o contrato teria um alto custo para a organização, em lugar de defender sua hipotética influência sobre a conduta da Shell. “O dinheiro para gastos operacionais se perderiam”, diz um documento interno da rede ambientalista. Além disso, se a Shell iniciar ações legais “as conseqüências financeiras (para a IUCN) seriam imprevisíveis”.

Dennis Hosack, oficial de programa de empresas e biodiversidade da UICN, admitiu que a Shell “tem importantes antecedentes de danos ambientais e que trabalha em lugares muito difíceis, com o delta do Níger’. Não defendemos a Shell, mas a IUCN considera que pode ajudar a empresa a reduzir o dano ambiental e levar as normas ambientais para toda a indústria do petróleo”, disse Hosack.

Jeroen van der Veer, diretor-geral da Shell, disse esta semana à IPS que sua empresa está comprometida a trabalhar junto com a sociedade civil para “fazer bem as coisas” e ter organizações não-governamentais como testemunhas, mas, certa alteração do meio ambiente é inevitável, e acusou a imprensa de alimentar preconceitos contra a companhia. Além da Shell, a UICN tem um acordo igualmente controvertido com a Holcim principal fornecedora mundial de cimento. Outro associado é a Total, a gigantesca empresa petroleira da França, e proximamente um novo sócio será a Rio Tino, maior extratora de carvão do mundo.

“O comitê holandês discutiu a moção para pôr fim ao contrato com a Shell, mas não temos uma posição como grupo”, disse à IPS um membro do comitê nacional da Holanda da IUCN, diretamente envolvido no debate. “Se não me identificarem, direi que o intercâmbio é extremamente perigoso para todos os ambientalistas”, acrescentou um delegado latino-americano no Congresso Mundial da Natureza.

Christiane Ehringhaus, uma estudiosa alemã que trabalha no escritório latino-americano do Centro de Pesquisas Florestais Internacionais, considerou “muito ingênuo acreditar que grupos ambientalistas possam realmente influir na conduta de empresas tão poderosas como a Shell”. Por outro lado, Anna Kalinowska, membro da Fundação Nacional da Polônia para a Proteção Ambiental, disse que “se forem condenadas todas as grandes empresas não haverá nenhuma possibilidade de induzir mudanças em sua conduta ecológica”.

(Por Julio Godoy, Envolverde, TerraViva/IPS, 14/10/2008)


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