Uma das maiores indústrias na pesca está à beira do colapso. O escamudo-do-alasca*, peixe largamente utilizado para fazer sandes no McDonalds, usado em receitas de peixe com batatas, palitos de peixe e imitações de caranguejo, viu a sua população decrescer 50% desde o ano passado.
A redução das populações deve-se sobretudo à enorme quantidade dessa espécie que está a ser capturada no Mar de Bering do Alasca. Todos os anos, navios fábrica retiram do mar mais de um milhão de toneladas de escamudo, e impedem que ele consiga se reproduzir com a rapidez necessária para ter os seus stocks recuperados .
Tal como as instituições financeiras de Wall Street entraram em colapso devido à falta de supervisão e ao desgoverno, também a pesca do escamudo está a caminho do desastre. Para conseguir evitar o colapso, o Conselho de Gestão das Pescas do Norte do Pacífico tem que agir rapidamente e decidir a redução dos limites de pesca na sua próxima reunião, que irá acontecer em Dezembro. Somente assim será possível elevar o escamudo para níveis populacionais mais saudáveis.
Uma indústria bilionária
A indústria de pesca do escamudo é um negócio bilionário. Na actualidade, os interesses económicos dessa indústria sobrepõem-se ao senso comum, e, a cada ano, as empresas querem capturar o máximo de peixe possível e obter lucros sempre mais elevados. Apesar dos sinais de aviso e das recomendações dos cientistas para que se reduzam as capturas, a indústria continua a pescar de forma altamente destrutiva.
Qual a quantidade de escamudo que está a ser pescada? Imagine que os peixes capturados em 2004 fossem colocados em fila: esta linha daria a volta ao Planeta Terra mais de 38 vezes! Os stocks simplesmente não conseguem aguentar tamanha pressão.
Dos quatro stocks de escamudo do Alasca existentes, dois estão totalmente esgotados e o terceiro é apenas uma fracção do que foi outrora. Apesar dos sinais de aviso, incluindo cinco anos consecutivos em que se verificaram baixas taxas de sobrevivência dos juvenis, a indústria continuou a perseguir o escamudo nas zonas de desova, capturando enormes quantidades de fêmeas antes que estas pudessem se reproduzir. Esta prática predatória agrava o problema, pois não permite que escamudo cresça, atinja a maturidade reprodutiva, reproduza-se e que o ciclo se perpetue para dar continuidade à espécie.
Ecossistema do Mar de Bering
Os cientistas e os conservacionistas avisaram que, a menos que o Conselho reduza a pressão sobre o escamudo - uma espécie forrageira vital para a alimentação das focas, baleias e dos ameaçados leões marinhos de Steller – todo o ecossistema do Mar de Bering pode estar em perigo. O seu colapso seria fatal para os pescadores e para as comunidades piscatórias tradicionais, que dependem do oceano e da pesca para a sua alimentação e subsistência.
É necessária uma acção rápida
Os interesses da indústria da pesca tiveram um papel importantíssimo na definição da situação actual. O Conselho de Gestão de Pescas do Oceano Pacífico está dominado por representantes deste sector, alguns dos quais ignoram as leis de conflito de interesses, e habitualmente votam contra medidas que afectariam os seus lucros se fossem implementadas.
Em Dezembro próximo, o Conselho de Gestão das Pescas do Pacífico do Norte irá decidir um novo limite para a pesca do escamudo em 2009. Para restaurar a saúde dos stocks deste peixe, o limite tem que ser reduzido à metade, a captura em zonas de desova tem que ser proibida e têm que ser criadas reservas marinhas que protejam os habitats que estão em estado crítico.
(Greenpeace Portugal, 14/10/2008)
*Theragra chalcogramma - O escamudo-do-alasca pode aparecer também com a designação comercial escamudo ou ainda Juliana.