Os governos não conseguirão cumprir a meta de reduzir a perda de biodiversidade até 2010, afirmam especialistas ouvidos pela BBC News. O acordo da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (CBD, na sigla em inglês) foi fechado durante a Eco-92, mas assinado apenas em 2002.
Segundo o documento, firmado por cerca de 200 países, a meta é "atingir até 2010 uma redução significativa no atual índice de perda de biodiversidade a nível global, regional e nacional, como uma contribuição para a redução da pobreza e para o benefício de toda a vida na Terra".
No entanto, dez especialistas presentes no Congresso Mundial de Preservação são unânimes em afirmar que a meta não será cumprida. Eles dizem que os indicadores de progresso globais não indicam melhorias e poucos governos adaptaram a meta às suas legislações nacionais.
Nem todos os especialistas questionados pela BBC quiseram tornar públicas suas opiniões e alguns dizem que há certa relutância em "envergonhar" os governos sobre seus fracassos nessa questão. Outros sugerem ainda que a meta já não era "atingível" quando o documento foi assinado, há seis anos.
Indícios
Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da CBD, disse à BBC que a meta para 2010 só seria cumprida através de ações de urgência dos governos, o que "segundo todos os indicadores, seria pouco viável". Na semana passada foi divulgada a Lista Vermelha das Espécies em Extinção, que revela que cerca de 25% dos mamíferos no planeta estão ameaçados de extinção.
Também na semana passada, uma revisão da ONU sobre a economia da perda de biodiversidade mostrou que a degradação das florestas ao redor do mundo custa mais à economia global todos os anos do que a atual crise no sistema bancário. Georgina Mace, diretora do Centro para Biologia da População do Imperial College, em Londres, acredita que não há chances de atingir a meta prevista em 2002.
Ela cita algumas formas usadas para medir a biodiversidade e afirma que "virtualmente todas as tendências que causam a perda das espécies e ecossistemas continuam em nível global". O diretor de políticas globais Congresso Mundial de Preservação, Gordon Shepard, ressalta ainda que a convenção não trata de assuntos multilaterais como a construção de estradas, a mudança climática, a poluição e a expansão agrícola.
"Na realidade, as pessoas com poder de decisão nessas áreas, sejam os governos ou empresas, têm muito mais poder que os ministros de Meio Ambiente, que não possuem as ferramentas para combater o abuso dos recursos naturais ou do consumo", disse.
Progresso
Para Thomas Lovejoy, presidente do centro de estudos Heinz Center, em Washington DC, nos Estados Unidos, há sinais de progresso no cumprimento da meta em diferentes lugares do mundo, como Costa Rica e Butão. "Em 43 anos nós passamos de apenas uma floresta protegida, a Amazônia, para 40% de áreas que estão de alguma forma protegidas", afirmou.
"Não é o suficiente para manter a integridade do ecossistema, mas é uma grande conquista", disse Lovejoy. A Europa foi o continente que demonstrou o maior progresso para atingir a meta. De acordo com um estudo recente, os países europeus estão trabalhando para conter a perda de biodiversidade - mas até 2050, e não 2010.
Segundo Djoghlaf, a meta de 2010 serviu pelo menos para colocar a questão da diminuição da biodiversidade em destaque nos âmbitos público e político. "As pessoas estão mais alertas, prontas para se envolver na questão, o comportamento nas empresas está mudando e a biodiversidade está se tornando um assunto de negócios porque os empresários sabem que o mercado futuro é verde e eles têm que se adaptar", disse.
No entanto, Lovejoy afirma que, apesar das iniciativas, os ecossistemas e diversas espécies já foram irremediavelmente ameaçados. "Não é mais uma questão sobre a possibilidade de uma sexta grande extinção na história da Terra. Ela já está acontecendo e a questão é quão grande vamos deixar que ela se torne", disse.
(Estadão Online, AmbienteBrasil, 14/10/2008)