A ArcelorMittal (ex-CST) anunciou que poderá diminuir em 20% a sua produção, devido à recessão mundial. Caso de confirme a intenção, pela primeira vez, os capixabas poderão respirar um pouco mais aliviados, mesmo que temporariamente. Isso antes da empresa retomar seu projeto de expansão, que vai aumentar ainda mais a poluição do ar na Grande Vitória.
A informação sobre a redução da produção foi divulgada em relatório do banco americano Goldman Sachs, a respeito do setor siderúrgico, no Valor Econômico desta segunda-feira (13). Ao reduzir a produção, a empresa tem o objetivo de diminuir a oferta do produto e, conseqüentemente, evitar que seus preços despenquem.
A crise do crédito no mercado financeiro internacional tem paralisado os consumidores de aço que não estão tomando decisões de compra, até que se tenha uma idéia da extensão da crise.
Entretanto, se a redução na produção se confirmar, é necessário lembrar que é temporária. A empresa quer aumentar a poluição que lança sobre a Grande Vitória com a ampliação de suas duas primeiras usinas. A obra, que já está sendo realizada, foi licenciada em tempo recorde pelo governo Paulo Hartung.
A empresa lança há mais de duas décadas gases derivados do enxofre sem tratamento na atmosfera, só por economia. Construirá mais um forno de reaquecimento de placas do Laminador de Tiras a Quente (LTQ), para que as duas usinas antigas passem a produção de 2,8 milhões para 4 milhões de toneladas de bobinas anuais.
No ano passado, a ArcelorMittal Tubarão inaugurou sua 3ª usina, com a participação do principal acionista da empresa, o indiano Lakshmi Mittal. Com sua 3ª usina, a ArcelorMittal Tubarão passou sua produção de 5 milhões de toneladas anuais de aço para 7,5 milhões de toneladas anuais (podendo chegar a 8,3 milhões).
A ArcelorMittal Tubarão é conhecida entre os ambientalistas por descumprir obrigações legais. Entre elas, a que mais trouxe prejuízos à população: a empresa não implantou a unidade de dessulfuração para suas usinas desde 1983, quando começou a operar. Essa unidade é responsável por filtras os poluentes lançados no ar pela empresa.
Com a ausência da unidade de dessulfuração, os gases derivados do enxofre produzidos no processo de produção do aço são lançados sem tratamento no ar. Em contato com a água o enxofre produz, entre outros, chuva ácida, que já foi registrada no entorno da usina da ArcelorMittal Tubarão. A Vale também produz poluentes gasosos, além de ser a maior produtora de poluentes particulados.
As usinas da Arcelor são localizadas no Planalto de Carapina, ao lado das pelotizadoras da Vale. Ao todo, são 59 os tipos de gases lançados, sendo 28 altamente nocivos. Tais poluentes podem causar além de vários tipos de câncer, doenças que destroem o sistema imunológico, alérgicas, respiratórias e doenças genéticas.
Antes de expandir suas atividades, a ArcelorMittal Tubarão, a Vale e a Belgo provocavam 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados apurados pelo Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A pesquisa apontou nessa ocasião que a Vale respondia por 20-25% dos poluentes do ar, a ArcelorMittal Tubarão por 15 a 20% e a Belgo por 5-8% das 264 toneladas/dia de poluentes, chegando a 96.360 toneladas/ano.
Além da expansão da ArcelorMittal Tubarão, a Vale também aumentará sua produção de pelotas em 45%, com reformas de velhas usinas e da instalação da VIII pelotizadora. Serão produzidas 39,3 milhões de toneladas ano de pelotas de ferro em Tubarão.
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 14/10/2008)