Com o objetivo de refletir sobre as condições atuais da oferta de alimentos e suas condições de expansão com base nos avanços tecnológicos e nas alternativas de financiamento para o setor da agricultura, representantes do Banco do Brasil e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se reuniram em uma das mesas de debate do Seminário Nacional Mesa Brasil SESC, realizado nos dias 8 e 9 de outubro, em Brasília.
A Embrapa é considerada uma empresa de excelência na pesquisa em tecnologia de alimentos e em tecnologias que visam a diminuir os impactos ambientais da agricultura. Segundo o pesquisador da Embrapa, Eliseu de Andrade, a crise de alimentos tem muita conexão com as atividades da empresa. Para ele, a saída para essa crise está no desenvolvimento tecnológico: "Não existe desenvolvimento tecnológico sem instituições. É esse o papel da Embrapa. Do ponto de vista de gerar tecnologia, o Brasil está com todas as condições para se desenvolver".
De acordo com Eliseu, na atual crise, o efeito demanda existe, porém não é dominante. "O efeito dominante é uma redução do crescimento da oferta por causa do incremento do preço do petróleo", afirma. Para Eliseu, o etanol não é causa: "Pesquisas não mostram evidências de que a área cultivada tenha aumentado por causa da cana-de-açúcar. A soja é que está substituindo as outras lavouras, inclusive as de cana".
O preço do petróleo, segundo o pesquisador, afeta o preço dos fertilizantes e isso provoca o aumento dos preços dos alimentos. "Se sobe o preço do petróleo, aumenta o dos fertilizantes, o do transporte, o da infra-estrutura e desencadeia um aumento no custo de produção dos alimentos", explica. No entanto, ele esclarece que esse aumento no custo não diminui a oferta, mas o ímpeto de seu crescimento.
Eliseu ressalta ainda a confusão entre preço real e nominal (que leva em conta a inflação) dos alimentos: "A mídia poderia ajudar a população a educar as pessoas sobre preços nominais e reais". Segundo o pesquisador, o preço real dos alimentos vem diminuindo nos últimos anos devido ao aumento da produtividade agrícola, por isso a importância da tecnologia: "No caso da Amazônia, o desmatamento vai continuar se a tecnologia não chegar lá. É na África que está tendo o maior desastre ambiental do mundo, porque não tem tecnologia. Por isso, a Embrapa está levando os projetos para lá".
O Banco do Brasil é a instituição financeira do País que dispõe do maior programa de financiamentos para grandes, médios e pequenos produtores rurais, além de possuir a maior capilaridade territorial com agências espalhadas pelos diversos municípios do Brasil. O vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Luis Carlos Guedes Pinto, lembrou que no dia 12 de outubro o Banco completou 200 anos, com grande participação no financiamento da agricultura brasileira, disponibilizando 62,7% do total de créditos do setor.
"De 2003 a 2008, o Banco do Brasil triplicou o crédito para a agricultura familiar de R$ 2,2 bilhões para R$ 6 bilhões. A meta para este ano agrícola 2008/2009 é de R$ 7,8 bilhões", afirmou. O vice-presidente de Agronegócios explicou ainda que o agronegócio não significa agricultura empresarial: "No agronegócio, vemos a agricultura de uma forma ampla, do ponto de vista de quem produz da agricultura, daquele que processa os alimentos. Por isso, o pequeno agricultor pode estar inserido no agronegócio".
(Adital, 13/10/2008)