Na gestão Bush ideias ruins não morrem nunca. Por isso mesmo a nova proposta do Pentágono e do Departamento de Energia (cuja responsabilidade será passada ao próximo presidente) que busca a construção de novas bombas nucleares não deve ser recebida com surpresa.
Quase duas décadas depois deste país ter parado de construir armas nucleares, não devemos retomar a prática. Como a proposta assinada pelo secretário da Defesa Robert Gates e pelo secretário de Energia Samuel Bodman reconhece, o estoque de armas nucleares atual permanece "seguro, suficiente e confiável".
Qualquer decisão de se construir uma nova arma alimentaria profundas suspeitas sobre o julgamento e a motivação da América, além de prejudicar seus esforços em conter as ambições nucleares da Coréia do Norte, Irã e outros países.
A proposta desta gestão parece sedutora. Intitulado "Substituição Confiável de Bombas Nucleares" (nome bem planejado) o projeto se propõe a ser forte, confiável, seguro contra terroristas e não realmente novo, mas melhorado. Ah, claro, ele conterá menos materiais tóxicos.
As autoridades também dizem que se conseguirem novas bombas o governo provavelmente não precisará manter tantas em estoque para evitar uma falha técnica (apesar de ninguém ter prometido nada). As autoridades também insistem que não será preciso testar as novas bombas pois agora os computadores podem fazer isso através de modelos.
Os Estados Unidos não testam uma arma nuclear desde 1992, um dos pouco tabus bélicos que o presidente Bush não quebrou. Mas Bush também rejeitou o Tratado de Proibição do Teste Completo, então qualquer promessa de não testar as novas armas é suspeita.
O Pentágono passou a se preocupar com o "envelhecimento" das bombas apenas depois de não conseguir convencer o Congresso a financiar uma nova arma "caça abrigo" que atingiria alvos subterrâneos. Os laboratórios nucleares do país há muito pedem um novo desafio que atraia uma nova geração de cientistas, mas armas nucleares não podem ser um simples projeto de recrutamento.
O Congresso sabiamente atrasou o financiamento de uma nova bomba nuclear pelo menos até que o estudo sobre as regras para armas nucleares (coordenado por dois ex-secretários da Defesa, William Perry e James Schlesinger) seja finalizado em dezembro. Nenhum candidato à presidência eliminou categoricamente a possibilidade de uma nova arma. Ambos deveriam.
Se o estoque existente é "seguro, suficiente e confiável" não há motivo para se construir uma nova arma nuclear.
(Ultimo Segundo, The New York Times, 13/10/2008)