O Congresso Mundial da Natureza, que vai até o próximo dia 14 em Barcelona, tentará definir a agenda de proteção ambiental para os próximos anos. Organizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), esta reunião “é o único fórum ambiental democrático, no qual mais de mil membros da organização estabelecerão formas mais adequadas para responder aos desafios ambientais e de desenvolvimento”, disse à IPS Mario Lague, diretor de Comunicações da UICN.
Mais de oito mil responsáveis por tomadas de decisões em matéria de desenvolvimento sustentável, de órgãos oficiais, organizações não-governamentais, acadêmicos, cientistas e empresários, “compartilham soluções pragmáticas em questões com segurança alimentar, a crescente demanda por energia e a superexploração dos recursos pesqueiros”, acrescentou Lague. Existe a urgente necessidade de alcançar até 2009 um acordo internacional em matéria de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, em parte responsáveis pelo aquecimento global.
O Protocolo de Kyoto, adotado em 1997 e em vigor desde 2005, que estabelece metas de redução para 37 países ricos ou membros da União Européia, expirará em 2012 e exige um instrumento que o substitua. As emissões desses gases devem ser reduzidas em pelo menos 5% até 2012, em relação aos índices de 1990. Com a exceção dos Estados Unidos, todas as nações ricas que adotaram a Convenção Marco sobre Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (Unfccc) ratificaram o Protocolo.
Durante a cúpula realizada em dezembro em Bali, as negociações sobre os compromissos “pós-Kyoto” chegaram a um ponto morto, patinando na questão sobre igualdade Norte-Sul. As nações em desenvolvimento insistiram no princípio de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, e exigiram dos países ricos que cumprissem suas obrigações. Lague disse que a UICN está lançando uma nova associação com órgãos oficiais e grupos da sociedade civil para ajudar no diálogo Norte-Sul e permitir que os países em desenvolvimento tenham influência nas negociações sobre mudança climática. Com este objetivo em vista, a UICN organizou uma série de seminários e pretende realizar outros na América Latina e Ásia em 2009.
“A biodiversidade e os ecossistemas são nossos melhores aliados para a adaptação diante da mudança climática. As florestas capturam e armazenam dióxido de carbono e oferecem às comunidades locais um meio de vida. Também são vitais para a preservação das espécies”, disse a diretora-geral da UICN, Julio Morton-Lefebre, ao falar no congresso. Um estudo desta organização revela que 35% das aves do mundo, 52% dos anfíbios e 71% dos corais de águas quentes são particularmente susceptíveis à mudança climática.
A UICN considera que devem ser reduzidas as emissões contaminantes em pelo menos 50% até 2050, para que a temperatura não aumente mais do que dois graus centígrados em relação aos níveis da era pré-industrial. Mas isto deve ser acompanhado por medidas efetivas para a transferência de tecnologia ao mundo em desenvolvimento. Além disso, reclama que as negociações sobre mudança climática sejam mais eqüitativas, com a participação de todas as partes interessadas, incluindo mulheres, comunidades indígenas e representantes dos países em desenvolvimento.
O secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica, Ahmed Djoghlaf, fez um apelo para que políticas sobre mudança climática e biodiversidade se integrem. “Oitenta quatro por cento das estratégias e dos planos de ação sobre diversidade em nível nacional não contêm objetivos estratégicos ou atividades relacionadas com a adaptação à mudança climática”, afirmou. Djoghlaf lamentou que a implementação das convenções sobre biodiversidade não receba a prioridade que merecem, com evidência o fato de alguns países ainda não terem aderido a elas.
Um documento de trabalho afirma que “embora os fundos para programas de conservação da biodiversidade estejam em aumento na ajuda para o desenvolvimento de países como Alemanha e Estados Unidos, tanto quanto no nível nacional, os recursos devem ser incrementados se quisermos salvar a biodiversidade até 2010”. Um informe apresentado pelo diretor da não-governamental Countdown 2010, Sebastian Winkler, destaca que os membros do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia), bem como as cinco maiores economias emergentes (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) estão em um ponto “médio ou baixo” em seu desempenho para atingir as metas de biodiversidade até 2010.
“Os países não estão fazendo o suficiente. Devemos lembrar aos governos uma vez mais as ações necessárias para conseguir os objetivos”, afirmou Gordon Shepherd, do Fundo Mundial para a Natureza. “O aumento da cooperação é vital para deter ameaças como o comércio ilegal de componentes da biodiversidade, que afeta especialmente os países asiáticos”, acrescentou.
(Por Ramesh Jaura, Envolverde, IPS, 10/10/2008)