O semi-árido brasileiro possui um regime pluvial irregular, isto é, há um grande período de estiagem com chuvas esporádicas, entre 400 e 800 mm anuais. O também chamado sertão abrange o Ceará, Piauí, Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, além do Vale do Jequitinhonha, no Norte de Minas Gerais, e parte da região Norte do Espírito Santo.
Essa característica pluvial não faz do sertão um deserto, impróprio à vida. A região apresenta grande biodiversidade e ricos recursos naturais. Porém, os longos períodos de seca prejudicam agressivamente a economia local e a qualidade de vida de seus moradores.
Além dos problemas econômicos, a região ainda sofre com a escassez de tecnologias adaptadas para ela, as quais seriam bem vindas no sentido de aliar a proposta de desenvolvimento econômico daquelas populações com o uso sustentável dos recursos naturais disponíveis.
Para demonstrar a produtores, técnicos agropecuários, pesquisadores e estudantes que isso é possível, o IDER (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis) promove amanhã (14/10) o 1° Seminário de Energias Renováveis do Sertão Central.
O evento acontecerá na Fazenda Normal, no município de Quixeramobim, a 220 km de Fortaleza (CE). Nesta fazenda, de propriedade da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará), todos os equipamentos com as tecnologias adaptadas para o semi-árido foram testados.
O seminário conta com as parcerias da Ematerce, Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), USAID Brasil (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e da organização-não-governamental Renewable Enegy and Efficiency Energy Partnership.
“O semi-árido apresenta um potencial para as energias renováveis que não pode ser ignorado”, disse a AmbienteBrasil Jörgdieter Anhalt, diretor do IDER. Ele explica que, além dos grandes projetos de energia eólica que já são uma realidade no litoral, no interior há a possibilidade de utilizar tecnologias apropriadas que trazem enormes ganhos ambientais, econômicos e sociais.
Entre as tecnologias que serão apresentadas no seminário está o Fogão EcoEficiente que, a partir da queima eficiente, reduz em até 50% o consumo de lenha, hoje estimado em 4 mil toneladas diárias em todo o Nordeste. O fogão ainda reduz as doenças causadas aos sertanejos pela fumaça da queima da lenha.
O Desidratador Solar não utiliza combustíveis fósseis para a secagem de frutas e verduras e o Sistema Fotovoltaico, através de painéis solares, transforma a energia solar em elétrica, que pode ser usado para eletrificar cercas ou como alternativa de fornecimento de eletricidade e bombeamento de água para vários fins.
A Usina de produção de biocombustível envolve o processamento de sementes de mamona ou pinhão manso, produção de óleo vegetal in natura e o processo para produção de biodiesel.
O Biodigestor transforma esterco e água em biofertilizante e biogás. Esse processo reduz as emissões de carbono na atmosfera, oferece o metano obtido como uma alternativa energética, melhora a saúde do rebanho graças à destinação adequada dos excrementos e reduz ou elimina o consumo de outros combustíveis tradicionais.
Todos esses equipamentos foram testados em outros projetos e adaptados pelo IDER conforme a realidade do sertanejo brasileiro. “O Fogão EcoEficiente, por exemplo, é baseado em um modelo que faz sucesso na Índia desde a década de 40, mas o design elaborado pelo IDER possibilita o uso de materiais facilmente encontrados nesta região e um método de construção bastante simples para qualquer pedreiro após uma rápida capacitação”, explica Jörgdieter.
Durante o Seminário, o produtor rural também poderá se informar sobre as linhas de financiamento para implantação de projetos de energias renováveis do Governo Federal. “Utilizar energia renovável é um investimento que pode mudar significativamente a realidade local, fortalecendo a economia, trazendo qualidade de vida e combatendo as ameaças ao meio ambiente”, enfatiza Jörgdieter.
(Por Neide Campos, AmbienteBrasil, 13/10/2008)