Território gaúcho seria pólo distribuidor de castanheira para EuropaO Rio Grande do Sul virou um centro de distribuição para países vizinhos e a Europa de madeira extraída ilegalmente da Amazônia. A principal espécie é a castanheira, uma árvore que atinge até 50 metros de altura. Com corte proibido desde 1994, tornou-se a preferida dos fabricantes de carrocerias de caminhões e de esquadrias usadas pela construção civil, por ser longa, macia e durável.
A descoberta aparece em um relatório da Operação Guardiões da Amazônia, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Colocada em prática em abril, a ação inverteu a lógica da fiscalização, que até então concentrava foco naquele que fazia o corte da madeira, geralmente um peão a serviço de madeireiras ilegais.
Agora, a investigação se iniciou pelo consumidor. A apuração é feita pela avaliação de notas fiscais, do depoimentos dos autuados e do Documento de Origem Florestal (DOF), uma guia que acompanha a madeira. Ainda não existem números nacionais da operação, mas já oferece informações valiosas.
– A ação nos permitiu conhecer toda a cadeia de ilegalidade: o comprador, o transportador, o beneficiado e o dono do corte da madeira – avalia o superintendente do Ibama no Estado, Fernando da Costa Marques.
No Rio Grande do Sul, a operação já apreendeu 3,3 mil metros cúbicos de madeira – 70% de castanheira. Mas a maior parte da carga não fica no Estado. O principal destino é Buenos Aires, de onde embarca para a Europa.
A longa viagem de caminhão desde o norte do país até o Estado pode não fazer sentido do ponto de vista logístico, mas foi a estratégia encontrada para driblar a fiscalização, que é mais especializada na região amazônica.
Os fraudadores, segundo as investigações, apostam que, quanto mais afastado for o posto fiscal da selva amazônica, maior será o desconhecimento sobre as madeiras. Para dificultar a identificação do crime, eles falsificam o conteúdo do DOF, adotando o nome de árvores com corte permitido.
– Não é fácil identificar a origem de uma tábua. Na maior parte dos casos, é necessário enviar a amostra para o laboratório – diz Fernando Falcão, chefe da Divisão de Controle e Fiscalização do Ibama no Estado..
Nas contas do chefe substituto do Ibama em Uruguaiana, Silvino Edder da Silva, há alguns anos, uma média de quatro carretas de madeira passava por dia pelo município e por Santana do Livramento. Hoje, a média diminuiu para duas. Se conseguem cruzar a fronteira, a carga cai nas mãos de um atacadista em Buenos Aires ou Montevidéu. Lá, ganham documentos novos. Assim, confirma-se um segundo crime: evasão de divisas.
(Por Carlos Wagner, Zero Hora, 13/10/2008)