Até 2050, as mudanças climáticas podem levar 200 milhões de pessoas a abandonar suas cidades. O problema é tema da Conferência Climática da ONU, que estima já haver 25 milhões de refugiados ambientais no mundo. O aquecimento global vai levar cada vez mais pessoas a fugir das regiões onde vivem, acuadas por secas, desertificação e enchentes. O drama dos refugiados do clima, bem como a dimensão social do problema, são pela primeira vez tema de um simpósio internacional.
Iniciada na quinta-feira (09/10), em Bonn, a Conferência do Clima do ONU, reúne 400 especialistas de 80 países – entre cientistas e especialistas de órgãos governamentais. O objetivo é identificar, ao longo de três dias, as atuais dimensões do problema, suas principais causas e medidas e políticas para contê-lo.
"Todas as evidências indicam que estamos diante de um problema de proporções gigantescas", avisa Janos Bogardi, diretor do Instituto para Meio Ambiente e Segurança Humana da ONU e presidente da conferência.
Longe de projetar o problema apenas para o futuro, especialistas alertam que suas conseqüências já se fazem sentir. O Comissariado para Refugiados da ONU estima que 25 milhões de pessoas já se encontrem em êxodo forçado por catástrofes ambientais.
O aumento do nível do mar e conseqüentes alagamentos devem deslocar pessoas que moram sobretudo em regiões costeiras. Por outro lado, secas e calor intenso podem inviabilizar a agricultura e a subsistência em outras regiões. Diferente de refugiados que deixam seus países por motivos políticos, refugiados ambientais tendem a permanecer em seus países, deslocando-se para regiões onde possam construir uma nova existência, explica Bogardi. Sobretudo mulheres, crianças e idosos de países mais pobres serão afetados.
Previsões para o aumento do nível do mar se agravam
Enquanto o problema é discutido em Bonn, de Berlim vêm previsões não mais otimistas. Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Potsdam para Pesquisas Climáticas e assessor do governo alemão para mudanças climáticas, alertou que, até o fim deste século, o nível do mar deve aumentar em um metro.
Na quinta-feira, numa coletiva de imprensa ao lado do ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, ele frisou que a previsão é mais grave do que a feita três anos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – em 2005, a organização previa que a elevação seria de 18 a 59 centímetros até 2100.
Fatores responsáveis pelo agravamento do prognóstico são, segundo ele, o acelerado derretimento das geleiras do Himalaia e da camada de gelo sobre a Groenlândia. Segundo Schellnhuber, o degelo na Groenlândia é acelerado pela emissão de partículas de fuligem por chaminés de usinas de carvão chinesas.
O depósito das partículas sobre o gelo faz com que derreta mais rápido, pois, perdendo a cor branca original, não reflete tanto o sol, absorve mais calor e se dissolver. "A poluição do ar tem papel fortíssimo sobre a aceleração das mudanças climáticas", disse Schellnhuber.
Ele também lembrou que a meta de limitar o aquecimento global a 2ºC só poderá ser alcançada se houver uma virada na emissão de gases-estufa em, no máximo, 15 anos. Isso envolveria, necessariamente, cortar pela metade a emissão global até 2050, e cessar a produção de gás carbônico até o fim do século. Ainda assim, disse ele, estudos recentes mostram que um aquecimento de 2,4ºC dificilmente poderá ser evitado.
Meio ambiente na frente da crise econômica
O ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, fez um alerta pedindo que o engajamento na proteção ao clima não seja deixado de lado por causa da crise econômica que afeta os mercados globais. "As bolhas especulativas que estouraram mostraram que faz, sim, sentido investir na economia concreta, e não apenas na especulação."
Gabriel ressaltou que o futuro é das tecnologias verdes. Segundo ele, uma política de proteção ao clima ambiciosa pode gerar 500 mil novos empregos na Alemanha até 2020. Político do Partido Social Democrata (SPD), o ministro rejeitou exigências do setor econômico e da União Democrata Cristã (CDU) para fazer uma pausa nas políticas de proteção ao clima, em socorro à crise financeira.
(DW, 10/10/2008)