O efeito dos raios ultravioleta e poluentes na fauna da Antártida e o levantamento dos organismos que vivem nas regiões de fundo do Mar Antártico são dois dos temas que serão estudados por pesquisadores da USP na XXVII Operação Antártica (Operantar), iniciada nesta semana.
Parte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), a expedição integra a programação do 4º Ano Polar Internacional. As atividades terão a colaboração do Navio de Apoio Oceanográfico (NapOc) Ary Rongel, da Marinha, que saiu na última terça-feira (7) do Rio de Janeiro e seguirá para a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), na Antártida.
A USP participa da Operação Antártica desde seu início, em 1982. “Desde o início do Ano Polar Internacional, em 2007, pesquisadores de diversas instituições brasileiras estão envolvidos em projetos multidisciplinares de pesquisa”, conta o professor Vicente Gomes, do Instituto Oceanográfico (IO). “Entre os temas estudados estão o impacto do buraco de ozônio e da presença humana na fauna e na flora da região”. A parte logística da expedição é gerenciada pela Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm), do governo federal, e o apoio científico aos projetos está a cargo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O professor é um dos supervisores da parte de Oceanografia Biológica do projeto Atmosfera Antártica: Estudo da Mesosfera, Estratosfera, Mesosfera e Troposfera e suas conexões com a América do Sul. "Vão ser avaliados os efeitos dos raios ultravioleta e dos poluentes trazidos pela atividade humana em populações de crustáceos existentes nas regiões rasas da Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, onde está a EACF”, explica. “A possibilidade de alterações provocadas pela radiação e contaminantes no metabolismo e nos tecidos dos animais já foi comprovada em laboratório, agora é preciso saber se isto já acontece no local”.
O projeto é coordenado por Neusa Maria Paes Leme, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um grupo de professores e alunos de graduação e pós-graduação do IO embarcará no dia 24 de novembro em um avião Hércules da Força Aérea Brasileira rumo à base chilena Eduardo Frei, na Ilha Rei George. Dali seguirão no Ary Rongel até a estação antártica brasileira. Ao todo, seis pesquisadores irão a Antártida por esse setor do projeto do IO, se revezando em grupos de quatro pessoas, até 15 de fevereiro.
Biodiversidade
No projeto Vida Marinha Antártica: Biodiversidade em relação à heterogeneidade ambiental na Baía do Almirantado, Ilha Rei George e adjacências, o grupo da bióloga Mônica Petti, pesquisadora do IO, se concentra nos organismos que vivem no bentos (fundo dos mares). "São constituídos principalmente por invertebrados (crustáceos, poliquetas e moluscos) associados a algum tipo de substrato, como areia, lama ou rochas", conta. O trabalho é realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob coordenação geral de Lúcia Campos.
Segundo a bióloga, a região da Baía do Almirantado possui uma grande variedade de organismos, que apresentam diferentes dominâncias, que dependem das características distintas de cada área, mesmo muito próximas. "Além deste estudo estar vinculado ao Ano Polar Internacional, os dados da pesquisa também serão utilizados no Censo da Vida Marinha Antártica e no planejamento das atividades de monitoramento ambiental a serem desenvolvidas nas próximas Operações", destaca.
Na Operação do ano passado, foram realizadas imagens de fundo em preto-e-branco com uma câmera remota de filmagem, em profundidades até 30 metros. "As imagens permitem fazer estimativas da densidade dos organismos, além de ajudarem na avaliação dos efeitos dos blocos de gelo que se desprendem das geleiras, conta a bióloga. Um novo equipamento, um Veículo de Operação Remota (ROV) com mais recursos, desenvolvido pela Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da UFRJ, permitirá a captação de imagens coloridas nesta próxima Operação Antártica.
A equipe da USP e UFRJ também permanecerá na Antártica entre novembro e fevereiro. No navio “Ary Rongel”, será feita a coleta de amostras de sedimento até 300 metros de profundidade. Ao todo, 19 projetos científicos serão desenvolvidos durante a Operantar, cujo encerramento está previsto para 14 de abril de 2009, quando o navio retornará para o Rio de Janeiro. Além dos pesquisadores do IO, também participarão grupos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Instituto de Biociências (IB) e Instituto de Geociências (IGc) da USP.
Mais informações: (11) 3091-6561, com Vicente Gomes, e 3091-6563, com Mônica Petti
(Por Júlio Bernardes, Agência USP, 10/10/2008)