A melhor forma de enfrentar o desmatamento é investir em educação, em saúde e na geração de oportunidadesMEU AVÔ João chegou ao Brasil no fim do século 19.
Veio da Itália para ser colono em fazenda de café, no interior de São Paulo. Meu pai, Sebastião, nasceu numa fazenda. Após ter sucesso como industrial, fez-se fazendeiro em Araras, também em São Paulo.
Fui criado vendo as coisas da roça e sei como é difícil manter uma propriedade rural auto-sustentável. Como empresário, meu pai seguia métodos de gestão e de produção modernos para aquela época. Tinha uma propriedade de boa escala e mesmo assim gastou muita energia para manter a fazenda sustentável e com preservação ambiental.
Imagino como vivem os habitantes dos assentamentos rurais no Brasil. Longe dos grandes centros, praticando agricultura familiar sem infra-estrutura, sem recursos financeiros e técnicos, os assentados estão em ecossistemas riquíssimos. Derrubar árvores tornou-se complementação de renda.
Na semana passada, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, iniciou corajoso debate sobre o modelo de reforma agrária. Ele apontou propostas, como um sistema de produção coletiva, para aumentar a produtividade nos assentamentos.
O modelo usado nos assentamentos necessita de ajustes. A sociedade arca com custos de implantação e manutenção dessas áreas. Contudo quem sabe informar o que e quanto produzem? Que tecnologia se faz necessária e que tipo de educação as crianças devem receber para desenvolver essas comunidades? Essas são questões que devem estar nesse debate iniciado pelo ministro.
Cobra-se sustentabilidade das empresas, mas vemos o avanço sem controle do desmatamento nos assentamentos e o êxodo dos jovens para as cidades. Precisamos de modelos que permitam o acesso à terra, com viabilidade econômica e educacional, e que preservem o ambiente.
A melhor forma de enfrentar o desmatamento é investir em educação, em saúde e na geração de oportunidades. Um caminho pode ser estimular novos arranjos econômicos. É preciso haver parcerias entre governos e empresas. Os setores público e privado possuem naturezas de atuação distintas, mas complementares. Se empresas ajudarem no desenvolvimento de novos processos, criam-se condições para a sustentabilidade dos assentamentos.
Vejamos o exemplo da Vale na Área de Preservação Ambiental do Igarapé Gelado, em Parauapebas (Pará). A comunidade existe há décadas, mas não conseguia se desenvolver. Foi feita uma parceria entre Vale, Ibama, prefeitura e comunidade para instalar uma Escola Técnica Rural que, entre outros benefícios, viabilizará a produção de alimentos em escala empresarial, os quais, por sua vez, abastecerão os restaurantes industriais da Vale na região. Uma relação de ganha-ganha para todos.
É preciso uma espécie de PPP entre a iniciativa privada e o governo.
Não devemos perder tempo com discussões sobre a importância da reforma agrária. É necessário levarmos novos processos para os assentamentos e ajudar a banir de lá a pobreza, que, desumana, flagela homens, mulheres e crianças. É hora de promover a inclusão social dos assentados, porque, no fim das contas, o maior inimigo do ambiente é a miséria.
ROGER AGNELLI , 49, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.
(
Folha, 12/10/2008)