Com danças de reisado e um almoço com feijão tropeiro, os quilombolas da Comunidade de Povoado Tabacaria, em Alagoas, comemoraram ontem o recebimento de uma cópia do documento em que o governo federal reconhece e declara como território deles uma área de 410 hectares. As 89 famílias do lugar viviam até agora num pequeno lote de 1 hectare.
Diretores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram até a comunidade, na zona rural do município de Palmeira dos Índios. O próximo passo será a desapropriação das áreas declaradas como parte do quilombo: três fazendas de médio porte dedicadas à criação de gado.
Embora a região seja dominada por minifúndios, os quilombolas pediram que nenhum pequeno proprietário fosse desapropriado. "É gente trabalhadora e pobre como a gente", disseram em documento enviado ao Incra.
O povoado fica na região do lendário Quilombo dos Palmares, símbolo da resistência negra à escravidão, e seus moradores se apresentam como descendentes dos seguidores de Zumbi. Segundo levantamento antropológico, eles foram expulsos das áreas que ocupavam durante o processo de expansão da pecuária na região, na década de 70.
Na época da demarcação da área, existiam dúvidas se ela não se sobrepunha à Terra Indígena Xucuri-Kariri, criada anos antes na mesma região. Mas, a partir da análise dos mapas, o Incra e a Fundação Nacional do Índio (Funai) concluíram que não havia sobreposição.
A cópia do documento do Incra foi entregue à mais velha moradora do povoado, conhecida como dona Vicentina, de 92 anos.
(Por Roldão Arruda,
O Estado de S. Paulo, 10/10/2008)