Já se passaram 30 dias que um tornado virou caminhões e transformou telhados em pandorgas, ao longo de apenas seis quilômetros da rodovia Tabaí-Canoas (BR-386), mas a comerciária Alda Thomas, 67 anos, ainda se surpreende procurando sobras de roupas entre os escombros de um centro de compras. – Não sei por que faço isso, tento achar alguma coisa que esteja inteirinha, mas nada – desola-se.
Na tarde de 10 de setembro, um fenômeno climático apavorante abateu-se sobre a BR-386, tendo por alvo a faixa entre os kms 385 e 391, arrancando a cobertura metálica de postos de gasolina e derrubando eucaliptos como se fossem pinos de boliche.
Situado em Coxilha Velha, município de Triunfo, o centro de compras onde Alda trabalha foi destruído por ventos superiores a 100 km/h e rajadas de chuva. Passado um mês, continua em ruínas.
Na tarde de ontem, Alda e outro funcionário, Cleto Sitowski, 26 anos, atendiam aos poucos fregueses que aproveitavam a liquidação de roupas e calçados. Camisetas eram torradas por R$ 2 a R$ 5.
O dono da empresa, Ivan Bizarro, aguarda a liberação do seguro para reconstruir o prédio. Ele precisou demitir oito vendedores.
Trinta dias também não bastaram para que o empresário Paulo Oliveira, 45 anos, reerguesse o prédio de 600 metros quadrados que abrigava a Carrocerias Coxilha. Nos primeiros 20 dias, suspendeu a produção, que chegava a 10 carrocerias de caminhão por mês.
Na usina de reciclagem Ecotrat, localizada a cem metros da rodovia, restou apenas o primeiro andar do escritório. O proprietário do prédio, Enio Braga Ferreira, 53 anos, calcula que o prejuízo ultrapasse os R$ 240 mil. A Ecotrat processava 120 toneladas mensais de lixo reciclável. Agora, está reciclando 30 toneladas.
Os efeitos do tornado se prolongam. No posto BR-Abastecedora Tabaí, operários fixam a nova cobertura metálica. A anterior, de 1,1 mil metros quadrados, caiu sobre bombas de combustível e três caminhões, provocando um estrago de R$ 200 mil. O gerente, Jovani Lampert, diz que ainda não pode oferecer serviços de lavagem e lubrificação aos clientes.
– Ainda vamos levar 30 dias para normalizar, se tudo der certo – prevê.
(Zero Hora, 10/10/2008)