Pressão é o que não falta sobre o ministro do Meio Ambiente. Mas Carlos Minc parece estar lidando bem com isso desde que assumiu o cargo, há quatro meses.
Em entrevista à Reuters, Minc reconheceu que é alvo de pressões políticas diariamente feitas por colegas da Esplanada dos Ministérios e pela mais alta esfera de poder do país, o Palácio do Planalto. O ministro ressaltou, no entanto, que conta com o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conseguiu a simpatia de grandes empresas como a Petrobras, pois passou a acelerar o processo de liberação de licenças ambientais para obras de infra-estrutura.
"As pressões existem todos os dias. Não é dia sim, dia não. É dia sim e outro também", declarou o ministro. "Pressão existe permanentemente."
Ao suspender o licenciamento ambiental da rodovia federal BR-319, que corta a Floresta Amazônica para ligar Porto Velho a Manaus, por exemplo, Minc gerou o descontentamento do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do próprio presidente Lula.
Nascimento, que é um político da região, protestou. O presidente Lula e Dilma se preocuparam porque o empreendimento faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Minc defende a construção de uma ferrovia no lugar, o que diminuiria o desmatamento de locais às margens da obra. A idéia não agrada ao governo, pois a linha de ferro demandaria maiores investimentos e não teria tanto uso.
Se a opção do governo for pela rodovia, alertou o ministro do Meio Ambiente, a licença só será assinada se constar do projeto quais áreas de preservação serão adotadas pelo responsável pela estrada e como este financiará a proteção ambiental.
"Eles (Lula e Dilma), no primeiro momento, ficaram apreensivos, mas reconheceram que o meu papel é de defensor", contou Minc, para quem uma "defesa bem estruturada" garante a manutenção de uma boa imagem do Brasil no cenário internacional.
"Não adianta você marcar um gol, se entrar muita bola no seu gol", ironizou.
Minc também entrou em atrito com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O ministro do Meio Ambiente conseguiu impedir que mais de uma usina hidrelétrica fosse construída no Rio Xingu e levou o governo a discutir com mais detalhamento a destinação dos resíduos produzidos pelas usinas nucleares do país.
O ministro não descarta a possibilidade de intervir novamente caso considere necessário. "Cada obra vai ser analisada do ponto de vista ambiental e técnico com celeridade e rigor."
Em outro episódio, Minc causou mal-estar dentro do Executivo ao apontar a reforma agrária promovida pelo governo como uma das principais responsáveis pela destruição da floresta amazônica.
"Hoje, quem mais desmata a Amazônia, infelizmente, são os brasileiros. São grandes empresas e até alguns erros que nós cometemos na reforma agrária da Amazônia, que estamos tentando consertar", criticou.
Minc, entretanto, demonstrou estar seguro de ter o respaldo do presidente Lula. O ministro, que ao ser convidado para assumir a pasta fez exigências como ter mais recursos, participar das discussões sobre política industrial e saneamento básico e impedir que critérios políticos contaminassem os licenciamentos ambientais, disse que segue com o apoio do chefe.
"O presidente concordou com todas as condições. Estou há quatro meses no ministério. Até agora, ele cumpriu com o prometido", concluiu.
(Reportagem adicional de Raymond Colitt)
(Reuters Brasil, FGV, 08/10/2008)