O governo do Estado e as prefeituras jamais fizeram estudos para identificar os poluentes ultrafinos e suas quantidades. Desta forma, os capixabas não sabem os tipos de doenças que estão enfrentando por esses agentes. As partículas ultrafinas causam doenças pulmonares, cardíacas, renais e afetam a reprodução, aponta o ambientalista Freddy Montenegro Guimarães.
Freddy Guimarães é presidente da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), a mais antiga ONG ambiental do Estado. Ele ressalta que se o governo estadual e as prefeituras da Grande Vitória fizeram pesquisas sobre os poluentes ultrafinos, jamais divulgaram esses dados.
Partículas finas são aquelas cujo diâmetro é inferior ou igual a 2,5 e 1 bilionésimo de metro (nanômetro), (PM2,5 e PM1). Já as partículas ultrafinas não são maiores que 0,1 milionésimos de metro de diâmetro (PM0,1). As frações mais finas têm papel importante na resposta inflamatória das células pulmonares, além de impactarem as funções cardíacas, reprodutoras e renais, como informam os especialistas.
Essa semana foi divulgada pesquisa realizada pelas Universidades de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontando que em Belo Horizonte, a concentração de poluentes no ar de está muito acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A OMS considera aceitável um nível de 10 mg/m³ de partículas ultrafinas de poluição, mas Belo Horizonte registra o dobro do recomendado.
Na análise dos resultados, os especialistas apontaram que a expectativa de vida da população na capital mineira pode ser reduzida em um ano e um ano e meio, em média.
Freddy Guimarães disse que é preciso uma pesquisa dessa natureza no Estado, feita por organização independente. Cobra: “Não dá para aceitar que a Secretaria de Estado da Saúde fique inerte, passadas quatro décadas da instalação das usinas da Vale em Tubarão”.
Ele lembra que as partículas ultrafinas são produzidas inclusive pelas emissões de gases. Como os emitidos pelas usinas da ArcelorMittal Tubarão (antiga CST) e Belgo, e da Vale. O presidente da Acapema lembra que as usinas da ArcelorMittal operam há mais de duas décadas sem tratar as emissões de enxofre, pois a empresa não construiu uma unidade de dessulfuração, mesmo sendo exigência da legislação.
Também lembrou que a Vale emite poluentes nas pilhas de minérios estocadas, e na produção de pelotas de minério de ferro.
O ambientalista afirmou que os Ministérios Públicos Federal (MPF) e Estadual (MPES) têm obrigação de cobrar do poder público a quantificação dos poluentes emitidos, desde as partículas ultrafinas, as finas e as de maior diâmetro. E exigir as medidas corretivas necessárias.
As poluidoras da Grande Vitória - A primeira usina da Vale foi inaugurada em 1969, com a remontagem de uma velha usina, praticamente não operacional, comprada nos Estados Unidos da América (EUA), com capacidade para produzir 2 milhões de toneladas anuais.
A expansão da produção em Tubarão foi contínua, como também crescente o aumento dos poluentes. As doenças causadas pelos poluentes da Vale aos moradores da Grande Vitória têm custo anual médio de R$ 65.000.000,00, o que totaliza R$ 2.535.000.000,00 nos seus 39 anos de produção.
A média anual dos gastos da população com a poluição provocada pela Vale e pelas empresas ArcelorMittal (Tubarão, antiga CST, e Belgo) é de R$ 133 a R$ 160 milhões. Em 2008, só a poluição das empresas ArcelorMittal provocaram doenças nos moradores de Vitória, cujo tratamento custou R$ 1.738.000.000,00.
A Arcelor Mittal Tubarão provoca doenças que exigem gastos de R$ 42 milhões a 56 milhões por ano, valor médio de R$ 50 milhões. E a Belgo causa doenças sobre os moradores que exigem o investimento médio de R$ 18 milhões anuais (varia de R$ 14 a 22 milhões, anualmente).
Cada morador da Grande Vitória paga um tributo às poluidoras para tratar as doenças provocadas por elas, de R$ 100,00 por ano, valor médio. E muitas das doenças causadas pela poluição não têm cura, como alguns tipos de câncer. Outras, destroem o sistema imunológico, além de provocar doenças alérgicas e respiratórias.
Ao todo, são 59 os tipos de gases lançados, sendo 28 altamente nocivos. A Vale e ArcelorMittal Tubarão (antiga CST) e Belgo provocam 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados apurados pelo Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A Vale responde por 20-25% dos poluentes do ar, que no total (somados aos da CST e Belgo) totalizam 264 toneladas/dia de poluentes (96.360 toneladas/ano).
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 08/10/2008)