Em março de 2009, pela primeira vez no mundo, começará a ser comercializado um combustível contendo etanol produzido a partir do arroz. Cultivada numa área de 300 hectares em Niigata, no centro do Japão, uma nova espécie de arroz, a "Hokuriku 193", não comestível, mas que tampouco é o resultado de manipulações genéticas, será utilizada para esta finalidade. Misturado na gasolina numa proporção de 3%, este biocombustível alimentará cerca de vinte postos de gasolina da região.
Uma tonelada de Hokuriku 193 permite produzir 450 litros de etanol, ou seja, praticamente a mesma quantidade que o milho (480 litros). O programa experimental japonês, que foi iniciado em 2006, permitirá produzir 3 mil litros de etanol. Outras pesquisas estão sendo desenvolvidas com o objetivo de extrair etanol também a partir das raízes e do caule desta espécie de arroz.
É verdade que o Japão está decidido a recuperar seu atraso em matéria de biocombustíveis. Mas, enquanto a procura de novas fontes de energia constitui uma motivação inegável, a produção de etanol ou de farinha de arroz visa também a salvar seus arrozais - a questão das emissões, por parte dessas parcelas imersas, de um gás de efeito-estufa muito poderoso, o metano, acabou sendo deixada de lado muito discretamente.
O Arquipélago, que possui uma capacidade de produção arrozeira de 12 milhões de toneladas, foi obrigado a reduzir sua produção para 8,7 milhões de toneladas, deixando sem cultivo cerca de 40% dos seus arrozais, de modo a manter os preços num determinado nível. "A produção de bioetanol representa um meio de reativar os arrozais dormentes que poderiam ser utilizados no caso de haver uma grave crise dos alimentos. Caso essas parcelas ficassem abandonadas por muito tempo, elas se tornariam irrecuperáveis", explica Tsuguru Ishiyama, o diretor da JA Zen-No, uma filial em Niigata da Associação das cooperativas agrícolas, encarregada de conduzir as pesquisas sobre o etanol.
Fortemente mecanizada, a cultura arrozeira japonesa apresenta um rendimento elevado que poderia facilmente ser duplicado para alcançar uma produção de uma tonelada por meio-hectare, valendo-se para tanto da variedade das espécies. Contudo, por serem pequenas demais, as fazendas familiares são pouco rentáveis e não poderiam sobreviver sem subvenções do Estado. É também por esta razão que a maioria dos agricultores tem uma atividade anexa.
Alimento para o gado
Protegido com mão de ferro por taxas de importação de 778%, o mercado japonês do arroz permanece "independente" do mercado internacional. Desde 1995, de maneira a se submeter às exigências de acesso mínimo estipuladas pela Organização Mundial do Comércio, o Japão importa anualmente 780 mil toneladas de arroz. Contudo, porque esta produção não corresponde ao gosto dos consumidores - que preferem os grãos redondos produzidos localmente aos grãos compridos do arroz tailandês -, ela é difícil de escoar. Uma parte dela serve como alimento para o gado. Uma outra é utilizada para aumentar as reservas (de 2,6 milhões de toneladas). Um escândalo recente envolvendo arroz importado, contaminado por pesticidas, que foi misturado com arroz local por uma companhia comercial pouco escrupulosa, em nada contribuiu para tornar popular o arroz trazido do exterior.
O consumidor japonês paga caro pelo seu arroz (uma tonelada vale quatro vezes mais do que o arroz tailandês), mas parece conformar-se com isso. "Caso houvesse uma abertura do mercado, sem dúvida os restaurantes que utilizam o arroz para receitas com curry comprariam mais arroz importado, mas, ao que tudo indica, este não seria o caso dos consumidores. Contudo, um bom número de agricultores acabaria falindo", analisa Michihiro Mochizuki, do Instituto de pesquisas em administração política da cidade de Niigata.
(Por Philippe Pons, Le Monde, UOL, 06/10/2008)