Levantamento independente sobre o desmate da Amazônia aponta que o corte raso sofreu uma queda em agosto, atingindo 102 km². Os dados, registrados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), da ONG Imazon, diferem dos números oficiais do governo, que apontaram aumento da área desmatada.
Enquanto para o Imazon houve uma redução de 63% em relação a julho (e de 85% em relação a agosto de 2007), para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ocorreu um aumento de 134% na comparação com julho, com 756 km² devastados. A diferença de números ocorre principalmente porque o SAD contabiliza somente as áreas em que a cobertura florestal foi complemente removida. No caso do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Inpe, são somadas também as áreas degradadas por fogo ou por corte seletivo de árvores.
Carlos Souza Jr., do Imazon, afirma que se essa diferença não for observada, “é o mesmo que comparar banana com laranja”. Segundo ele, o SAD deve começar a contar já no próximo mês a degradação da mata. “Acho que com isso os números vão ficar mais parecidos com os do Inpe. Já agora, olhando para as imagens, concordamos que houve muita queimada em agosto. É isso que está puxando a alta”, afirma.
Quando são confrontados diretamente só os dados de desmatamento, a diferença cai. Dos 756 km² registrados pelo Inpe, cerca de 193 km² são fruto de corte raso. “Apesar de mais alto que o nosso número, é curioso notar que ele é mais baixo que a tendência histórica para o mês de agosto”, comenta Souza Jr.
O pesquisador acredita que os dados de setembro vão representar a “prova dos nove” sobre qual número está mais perto da realidade da devastação. “Se essa degradação que está aparecendo nas imagens for resultado de um início de limpeza para desmatamento, ele vai aumentar e aparecer nos resultados do próximo mês. Mas se for apenas fogo que escapou nas áreas abertas, aí não vai continuar.”
Segundo ele, os dados mais preocupantes da avaliação de agosto são em relação ao aumento do desmatamento no sul do Amazonas. Os municípios de Nova Aripuanã, Humaitá e Boca do Acre aparecem entre os 10 mais desmatados. “O Estado tradicionalmente não é tão crítico. Isso é um sinal de que o problema está avançando para além do arco do desmatamento em direção ao coração do Amazonas. A fronteira está aberta ali.”
As três cidades estão respectivamente nas divisas com Mato Grosso, Rondônia e Acre. Humaitá, que já vinha apresentando uma alta de devastação, e Nova Aripuanã estão na beira da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. Seu asfaltamento está previsto pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que pode ser um dos motivos de pressão. Alegando temor de que isso acontecesse, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, chegou a suspender recentemente o licenciamento ambiental da obra. “Essas cidades estão muito longe do mercado, (o desmate) só se justifica se houver um investimento em infra-estrutura”, afirma Souza Jr..
De acordo com as imagens analisadas pelo Imazon, cerca de 81% do desmatamento de agosto ocorreu em propriedades privadas e terras da União ocupadas por posseiros ou grileiros. 10,5% aconteceu em área de assentamento de reforma agrária, 7% em unidades de conservação e pouco mais de 1% em terras indígenas.
(Giovana Girardi,
O Estado de S. Paulo, 07/10/2008)