Há cerca de um mês, alguns dos maiores produtores e fornecedores de grãos convencionais – ou seja, não-transgênicos - decidiram somar forças para fomentar o plantio, o desenvolvimento e o aprimoramento dessa produção no Brasil e reforçar sua posição no mercado internacional.
Nascia, assim, a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange), fundada pelos empresas André Maggi, Brejeiro, Caramuru Alimentos, Imcopa e Vanguarda.
Na visão da entidade, o espaço para os produtos não-geneticamente modificados brasileiros nos mercado interno e externo é enorme. Somente a capacidade de produção brasileira de soja não-transgênica de associados da Abrange já soma mais de seis milhões de toneladas. No cômputo geral, chega a 25 milhões de toneladas;ano.
Existe mercado para toda ela, mas, muitas vezes, parte dessa soja não é classificada como convencional – e perde o acesso a esse nicho - porque não houve a preocupação em dar garantias de que o produto não findou contaminado por transgênicos.
“O agricultor acaba não tendo um aproveitamento da produção dele, ou por falta de conhecimento, ou por falta de um trabalho maior de segregação”, disse a AmbienteBrasil Ricardo Tatesuzi, diretor Executivo da Abrange.
“Segregação”, uma palavra em geral associada a sentimentos pouco nobres, é, nesse caso, fundamental para evitar que a soja convencional seja contaminada pela transgênica. “A gente se protege desde a compra das sementes, passando pela colheita, transporte, armazenamento, tudo”, diz Tatesuzi.
Tais cuidados não se verificam apenas para manter o foco nesse mercado promissor, mas, também, em função de uma sandice perpetrada pela legislação brasileira. Se uma fazenda tem sua produção contaminada por transgênicos - através de um trator ou colheitadeira, por exemplo - o produtor é obrigado a pagar royalties à fornecedora de sementes geneticamente modificadas, ainda que não fosse nem de longe sua intenção adotar esse tipo de plantio.
Mesmo com os investimentos que a segregação requer, a Abrange vislumbra vantagens financeiras concretas. “Os transgênicos não estão barateando o custo de produção”, diz Tatesuzi, jogando por terra um argumento usualmente levantado pelos interessados no setor de organismos geneticamente modificados.
Com isso, a competitividade dos grãos convencionais está em boa fase, apesar do cenário não ser necessariamente duradouro, posto que subjugado por conjunturas internacionais.
Agora, a Abrange pretende fazer um trabalho de educação para os agricultores. “Um gerente técnico vai acompanhar e mapear a produção, para que todos aproveitem esse nicho”, antecipou Tatesuzi a AmbienteBrasil.
A produção não-transgênica passa pelo crivo de entidades certificadoras, quase todas reconhecidas internacionalmente, o que confere maior valor de mercado aqui e além-fronteiras. Os principais estados produtores de soja não transgênica são Mato Grosso, Goiás, Paraná, Tocantins e Bahia.
(Por Mônica Pinto /
AmbienteBrasil, 07/10/2008)