As queimadas destroem mais do que a derrubada de árvores em Tabaporã (Mato Grosso), ponto do assentamento campeão dos 100 maiores desmatadores do país. Ninguém no assentamento de Nova Fronteira, onde o Incra distribuiu 1.012 lotes em 1998, contesta a informação, mas todos, de líderes de sindicatos e associações a sitiantes que exploram as terras, em lotes de 60 hectares para cada família, ficaram indignados com as acusações contra eles.
- Não somos bandidos, como dizem no Sul, somos desbravadores que estão construindo há 40 anos a riqueza deste Estado - diz o gaúcho Pedro Abraão Peloso, um dos pioneiros do desmatamento que, em sua opinião, foi e continuará sendo inevitável para o desenvolvimento agropecuário da Amazônia.
- Comecei há 35 anos, manobrando tratores, quando aqui era só mato, e enfrentei com minha família todo o tipo de dificuldade. Agora, quando tenho um hotel modesto e um sítio fora do assentamento, devia ser chamado de herói, mas sou considerado um marginal.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Jurandir Joaquim da Silva, que se licenciou do cargo para se candidatar a vereador pelo PDT, repete o discurso: não nega a destruição das matas, mas insiste que os culpados são fazendeiros e pecuaristas, donos de grandes áreas, de até 20 mil hectares.
- Não há como explorar a terra sem desmatar, porque a gente não consegue plantar no pedacinho de terra, de 20% da área ou cerca de 20 hectares, que a lei permite derrubar. Os assentados optam pela criação de gado, mas não vão para frente com três ou quatro cabeças por hectare - afirma o presidente do sindicato.
(Pioneiro, 06/10/2008)