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política do agronegócio
2008-10-06

Durante anos e décadas os produtores rurais estão assistindo, com passividade, fatalismo e até resignação, à reiteração das seguintes distorções que ocorrem nas cadeias agroalimentares:

- sobem os preços dos insumos agrícolas e, conseqüentemente, os custos de produção das suas culturas, mas os preços que os agricultores recebem pela venda das suas colheitas não aumentam na mesma proporção; algo similar ocorre na produção pecuária

- quando as suas colheitas são abundantes, baixam os preços que os agricultores recebem pelos seus produtos, porém tal redução não necessariamente determina uma diminuição nos preços que os consumidores finais pagam nos supermercados

- os preços dos fertilizantes e pesticidas aumentam supostamente, porque subiu o preço do petróleo e o valor do dólar, mas quando estes dois últimos voltam aos seus níveis normais, os preços dos mencionados insumos agrícolas não diminuem

- baixam os preços que os intermediários lhes pagam pelo trigo, pela soja, pelo leite, pelo suíno vivo, mas eles nunca viram que os supermercados tenham baixado os preços da farinha de trigo e do pão, do azeite e da margarina, do queijo e do yogurt ou do presunto e das salsichas. Alguém está se apropriando destes lucros e esse alguém nunca é o produtor rural.

Como conseqüência destas desfavoráveis relações de intercâmbio, os agricultores se vêem obrigados a entregar uma crescente quantidade das suas colheitas, para poder adquirir uma mesma quantidade de insumos e de serviços. Nestas condições o poder de compra das suas "commodities" é cada vez menor. Aquí reside uma importantíssima causa do empobrecimento dos produtores rurais, que é necessário corrigir e que, felizmente, eles mesmos podem fazê-lo.

Os agricultores estão se defendendo, mas ainda lhes falta fazer o mais importante
Para compensar a "erosão" da sua renda, causada por esta expropriação dos seus lucros, os agricultores estão aumentando a escala de produção, incrementando os rendimentos por unidade de terra e de animal e reduzindo os custos por quilo produzido. Isto significa que estão adotando várias medidas que deveriam incrementar a sua renda.

No entanto, o premio por esta maior eficiência, em vez de beneficiar a quem realmente o merece (os produtores rurais), é absorvido pelos crescentes elos das cadeias agroalimentares. Isto acontece porque, desde que os insumos saem das fábricas, até que os alimentos cheguem às prateleiras dos supermercados, existem cada vez mais e mais intermediários: fabricantes de novos insumos, prestadores de novos serviços, processadores de matérias primas agrícolas, consultores de mercado e agentes de comercialização, empresas de publicidade, etc.

Quase todos estes integrantes das cadeias agroalimentares, vivem das riquezas produzidas pelos agricultores. Como existem cada vez mais agentes intermediários "chupando" o sangue do produtor rural é evidente que ele fica economicamente cada vez mais "anêmico".

Lamentavelmente, esta crescente expropriação já é tão familiar aos agricultores em suas relações de intercâmbio, que eles pensam que estão condenados a conviver com ela e que não podem fazer nada para eliminá-la. Nem sequer se dão conta que é exatamente este processo expropriatório a principal causa da falta de rentabilidade e do generalizado endividamento dos produtores rurais. Eles já caíram numa espécie de conformismo fatalista. As poucas vezes que protestam é para mendigar, sem êxito, que os comerciantes e industriais lhes ofereçam melhores preços, ou para reivindicar, também sem êxito, que os governos suavizem o seu empobrecimento concedendo-lhes créditos subsidiados, refinanciando e finalmente perdoando as suas dívidas.

E por que acontece tudo isto? Entre outras razões, porque os produtores rurais se encarregam apenas da etapa pobre e mais arriscada do agronegócio (produção ) e delegam a terceiros a etapa rica (processamento e comercialização). Isto é, presenteiam ao setor agroindustrial, comercial e de serviços, a nata do agronegócio.

Eles o fazem sem perceber que, antes do plantio, durante o ciclo produtivo e depois da colheita, existe uma excessiva e crescente quantidade de instituições e pessoas que lhes proporcionam serviços e produtos, alguns necessários e outros simplesmente prescindíveis ou substituíveis. Também não se dão conta de que alguns desses serviços e produtos que são realmente necessários, poderiam ser produzidos e/ou executados por eles mesmos, seja em forma individual ou grupal.

Infelizmente os agricultores não o fazem, porque pensam que não são capazes de assumir como sua a execução de algumas das atividades da etapa rica do agronegócio. Se o fizessem se apropriariam de um percentual mais elevado e mais justo do preço final que os consumidores pagam pelos alimentos.

O exemplo mais evidente desta excessiva e desnecessária dependência que os agricultores têm dos agroindustriais e comerciantes, é o caso das rações balanceadas. Na pecuária leiteira, em boa medida, tais rações poderiam ser suprimidas se os produtores de leite soubessem como cultivar pastagens de alto rendimento, se soubessem "colhê-las" racionalmente através de um correto pastoreio rotativo e se soubessem armazenar os excedentes para utilizá-los nos períodos de escassez. Muitos produtores rurais, além de dedicar-se à avicultura, à suinocultura e à pecuária de leite produzem, ou poderiam produzir, nas suas próprias terras ou em terras arrendadas, quase todos os ingredientes que coincidentemente as grandes empresas industriais utilizam na fabricação das rações (milho, sorgo, soja, alfafa, leucaena, gliricidia, mandioca, batata-doce, grãos de girassol e algodão, ramí, etc.).

Infelizmente, em vez de produzir/fabricar eles mesmos as suas próprias rações, vendem estas matérias primas ao primeiro intermediário que aparece em suas propriedades, o qual, posteriormente, as vende para a indústria fabricante de rações. Esta indústria depois de processar as matérias primas, agregar-lhes os componentes do núcleo vitamínico-mineral e de empacotá-las em atrativas embalagens, as vende a um segundo intermediário que as transporta de volta, muitas vezes ao mesmo município do qual saíram tais commodities. Ao retornar ao município de origem, um terceiro intermediário vende as rações, em muitos casos, aos mesmos agricultores que produziram os ingredientes com os quais foram fabricadas as rações que agora regressam às suas propriedades de origem. Esta distorção é simplesmente inaceitável e é "corrigível/eliminável" pelos próprios produtores rurais.

Os agricultores estão pagando os altíssimos custos dos "passeios" das colheitas que vendem e das rações que compram
É quase redundante afirmar que neste longo trajeto, de ida e de volta, que em muitos casos é de centenas e até de milhares de quilômetros, de fato são os produtores rurais que estão pagando os fretes e pedágios, os impostos em cada uma das várias transações, os ganhos de todos estes intermediários, agroindustriais e comerciantes, a cara publicidade que os fabricantes de rações difundem através dos meios de comunicação e os generosos salários dos executivos das transnacionais que fabricam as rações.

Em boa medida, estas despesas simplesmente poderiam ser evitadas/eliminadas, pois mais de 90% dos ingredientes das rações, nem sequer necessitariam sair das porteiras das propriedades nas quais foram produzidos. Tais ingredientes poderiam ir dos campos de colheita diretamente aos aviários, às pocilgas e aos estábulos, pertencentes aos mesmos agricultores que produziram estas matérias primas.

Se adicionalmente considerarmos que o componente alimentação reponde por 80% do custo de produção na avicultura e na suinocultura e por 50% pecuária leiteira, fica muito claro o "porque" da falta de rentabilidade nestes três ramos da produção animal; o que não ganha cada produtor rural, ganham algumas dezenas de não produtores rurais. Reitero, esta irracionalidade deve e pode ser extirpada dos procedimentos dos agricultores.

Então, qual é a solução para diminuir esta "sangria"? Reduzir a dependência que os agricultores têm dos outros integrantes das cadeias; ou quando isto não for possível, torná-los menos vulneráveis à excessiva expropriação dos mencionados elos. Como fazê-lo? Organizando-se com propósitos empresariais de modo que eles mesmos, assumam de forma gradual, a execução de algumas atividades da etapa rica do agronegócio. Aliás é o que já estão fazendo com muito êxito, várias cooperativas especialmente no sul do Brasil; são cooperativas agrícolas que estão se transformando em cooperativas agroindustriais. Inclusive os agricultores que não pertencem a nenhuma cooperativa, poderiam organizar-se em pequenos grupos para produzir, eles mesmos, alguns insumos ou pelo menos adquiri-los de forma grupal.

Estes grupos de agricultores poderiam constituir seus próprios serviços ( de vacinação e inseminação artificial, de plantio, pulverização e colheita, de assistência agronômica e veterinária, etc.). Também poderiam realizar em conjunto os investimentos de maior custo, efetuar a pré-industrialização/processamento inicial e comercializar os seus excedentes com menor intermediação, etc. A propósito, sugere-se ler o livro "Desenvolvimento agropecuário: da dependência ao protagonismo do agricultor" que está disponível aqui(especialmente os capítulos 5 e 11 ). Lá estão descritas várias medidas, de fácil adoção e baixo custo, porém altamente eficazes, para incrementar a renda dos agricultores.

E para concluir:
1. Uma reflexão em forma de pergunta: Por que nenhum fabricante de insumos, comprador de commodities agrícolas, agroindustrial ou intermediário, se dedica à etapa de produção agrícola e pecuária propriamente dita? A resposta
é óbvia e elementar: porque é muito mais rentável, mais cômodo y menos arriscado dedicar-se à etapa rica do agronegócio; todos os integrantes das cadeias agroalimentares já se convenceram desta verdade, menos os agricultores

2. Uma advertência: Embora seja importante, não é suficiente que os produtores rurais se integrem às cadeias agroalimentares. Eles devem ter como objetivos de curto, médio e/ou longo prazo, o propósito de tornarem-se os "donos" de alguns dos elos das referidas cadeias, como por exemplo: fabricar as suas próprias rações, comprar insumos, comercializar as colheitas em conjunto, incorporar-lhes valor e até exportar em conjunto.

3. Uma sugestão aos produtores rurais que se dedicam apenas à etapa pobre do agronegócio e que executam todas as suas atividades em forma individual (comprar insumos, fazer investimentos de alto custo e comercializar os seus excedentes): abram os olhos antes que seja muito tarde. Críticas e contribuições ao artigo serão bem-vindas através dos E-Mails:
Polan.Lacki@uol.com.br e Polan.Lacki@onda.com.br

(Por Polan Lacki, texto recebido por E-mail, 06/10/2008)


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