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agricultura familiar rio xingu sistemas agroflorestais
2008-10-06

Na Bacia do Xingu existem 22.525 nascentes. Porém, dados recentes sobre desmatamento no Mato Grosso apontam para a necessidade de ações urgentes voltadas à conservação da água na região: até o ano passado, foram desmatados cerca de 300 mil hectares somente na beira dos rios. É por essa razão que há quatro anos a Campanha Y Ikatu Xingu apóia iniciativas socioambientais que auxiliem a conservação e recuperação das nascentes e matas ciliares. De 16 a 18 outubro, acontecerá em Canarana, no Mato Grosso, a I Feira de Iniciativas Socioambientais, onde estarão expostas algumas dessas iniciativas realizadas de forma compartilhada com produtores e trabalhadores rurais, movimentos sociais, pesquisadores, professores, estudantes, governos, organizações da sociedade civil e comunidades indígenas.

Muitas das iniciativas destinadas à recuperação das matas ciliares e das Áreas de Preservação Permanente (APPs) são realizadas nos Projetos de Assentamentos (PAs) existentes na região. Durante a feira, haverá estandes onde o público poderá conferir, por exemplo, o que os agricultores familiares do PA Brasil Novo, no município de Querência, e PA Jaraguá, em Água Boa, estão fazendo nos seus lotes, da produção orgânica de gêneros alimentícios à recuperação de áreas degradadas através de técnicas agroecológicas, como os Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Ricardo e Luzia Dias Batista do PA Jaraguá 
O PA Jaraguá foi criado em 1998 e nele vivem 400 famílias, na região da Bacia Hidrográfica do Rio Sete de Setembro, onde a agropecuária promoveu forte impacto nas últimas décadas. Em 2006, a Campanha Y Ikatu Xingu iniciou o projeto "Agricultura e Matas Ciliares no PA Jaraguá" com a intenção de proporcionar a 30 agricultores condições para que desenvolvessem alternativas de produção sustentáveis aliadas a técnicas de restauração florestal e conservação de matas ciliares. Por meio desse projeto foi realizada uma oficina sobre Sistemas Agroflorestais (SAFs) no lote de Ricardo Dias Batista.

Em pouco menos de meio hectare foram plantadas sementes de mandioca, abacaxi, feijão-guandú, melancia, abóbora, urucum, maracujá e algumas árvores nativas, como caju, baru, bacaba e jatobá. Desde então, Ricardo e sua esposa Luzia não pararam mais de plantar. Hoje, pelo menos dois hectares de APPs estão enriquecidos com buriti, baru e pequi. Além disso, continuaram mantendo intocados 11 hectares de pasto e aguardando a sua regeneração natural.

Sistemas Agroflorestais e restauração
O reflorestamento realizado com base nos SAFs busca unir o plantio de espécies de crescimento rápido com o de espécies de crescimento lento, para sombrear as mudas e enriquecer o solo com matéria orgânica. Assim, espécies nativas do Cerrado são plantadas em consórcio com culturas temporárias. Primeiro colhem-se milho, feijões e abóbora. Após três ou quatro anos, algumas árvores começam a frutificar e tornam-se fonte de renda alternativa para o agricultor.

Ricardo notou que o solo começou a ficar mais fértil por causa dos SAFs. Nesse sistema, o feijão-guandú e o feijão-de-porco são plantados para aumentar o teor de nutrientes do solo e sombrear outras espécies. “Nesse novo método, uso sempre a mesma área e ela só aumenta o teor nutricional. Antes eu só sugava da terra. Hoje, devolvo a ela os nutrientes. Se você trabalha com a terra e cuida dela, ela não fica sofrida”, avalia o agricultor. A família já economiza nos gastos domésticos com a produção própria de leite, hortaliças, carne, frutas, verduras e legumes.

Outras famílias do PA Jaraguá também estão conciliando a prática do reflorestamento e da conservação das matas ciliares com a exploração de novas fontes de renda sustentáveis. É caso da família de Dorly Lima dos Santos, que numa área de pasto de 20 hectares começou a plantar mudas e sementes de árvores do Cerrado, como ipê, angico, gueroba, baru e pequi. “Meu maior sonho é ver esse pequizal produzindo. É uma árvore muito bonita e seus frutos rendem bastante. Não estou pensando em hoje, mas no futuro. Na minha terra a água não some porque temos aquele buritizal ali”, conta Dorly.

Oficina sobre Sistemas Agroflorestais (SAFs) realizado em 2006 no PA Jaraguá 
Já Laércio e Luzia Mariano da Cruz plantavam árvores desde que chegaram no Jaraguá. Com o apoio da Campanha Y Ikatu Xingu ficou mais fácil para eles conseguirem sementes. Com o que aprendeu sobre agrofloresta, Laércio começou a cultivar - em uma área de 2 hectares de APP do Córrego Água limpa - pés de pequi e baru em consórcio com milho, feijão-guandú, arroz, mandioca, abacaxi, maracujá e etc. Laércio já comemora a primeira frutificação de 17 pés de pequi, e pretende beneficiar as sementes para vender. A família não pára de sonhar: querem criar abelhas na área de reserva legal para produzir mel, além de preservar mais 7 hectares de APP em seu lote.

Estrela da Paz
Outra iniciativa em assentamento que poderá ser conhecida na I Feira de Iniciativas Socioambientais está ligada às atividades da Associação Comunitária Agroecológica Estrela da Paz, que reúne 30 famílias do PA Brasil Novo, em Querência. A Estrela da Paz foi criada em 2003 pelos próprios agricultores com o objetivo de buscar alternativas de renda para cerca de 40 parceleiros. Foi assim que se dividiram em grupos para trabalhar com produções específicas, como farinha, seringa, cachaça, pupunha e ovelha. Cada família se envolve nas atividades comunitárias de acordo com seus interesses e conhecimentos.

A partir de 2006, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) começaram a ser introduzidos no Brasil Novo por meio da Campanha Y Ikatu Xingu. Foi eliminado o uso de agrotóxicos e os agricultores passaram a trabalhar com adubo verde e projetos agroflorestais. Por exemplo, a beira do Córrego da Serraria foi cercada e suas matas ciliares recuperadas com os SAFs. “Acredito que a tendência é aumentar os Sistemas Agroflorestais no PA. Acredito que tudo isso que estamos fazendo é para nossos netos, que no futuro terão água boa para beber”, opina Armando Menin, agricultor e integrante da Estrela da Paz.

A renda das famílias também melhorou. Em 2007, a produção de cachaça chegou a 2,6 mil litros, de açúcar mascavo a 530 quilos e de farinha a 4 mil quilos.

II Encontro Nascentes do Xingu
Paralelamente à I Feira de Iniciativas Socioambientais, acontecerá o II Encontro Nascentes do Xingu para debater os rumos e os desafios que a Campanha Y Ikatu Xingu terá pela frente. Mesas redondas, palestras, mini-cursos e oficinas irão proporcionar a discussão sobre temas relevantes para a população que vive na Bacia do Xingu. Esses eventos serão realizados pelo ISA e a Prefeitura de Canarana, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Instituto Centro de Vida (ICV), Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com apoio da Fundação Rainforest da Noruega, União Européia, Usaid/The Nature Conservancy e Fundação Doen.

O I Encontro Nascentes do Xingu realizou-se em outubro de 2004, também em Canarana, e reuniu pecuaristas, indígenas, agricultores familiares, organizações não-governamentais, governamentais e de pesquisa e poder público para debaterem soluções para reverter o quadro de degradação das nascentes do Rio Xingu. E foi naquele momento que nasceu a Campanha Y Ikatu Xingu (que significa “água boa, água limpa do Xingu”, na língua dos Kamaiurá, um dos povos que habita o Parque Indígena do Xingu) para proteger e recuperar as nascentes e as matas de beira de rio do Xingu.

Informações para a imprensa:

Sara Nanni - Assessora de Imprensa - Programa Xingu Instituto Socioambiental

sarananni@socioambiental.org

tel:(66) 3478 3491; 9231 3665

(ISA, 03/10/2008)


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