Reserva do Juma é a primeira no Brasil a conseguir o reconhecimento
Certificado permite venda de créditos de carbono em mercado informal
Um certificado internacional reconheceu a importância da conservação da floresta na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, no estado do Amazonas. O documento, expedido pela auditoria alemã Tüv Süd, atesta que a manutenção da mata nesse local evita a emissão de gases de efeito estufa, e contribui para impedir o aquecimento global.
A reserva, que fica no município de Nova Aripuanã, é a primeira no Brasil a obter esse tipo de certificado. De acordo com Virgílio Viana, diretor da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que administra a área, o documento é um reconhecimento da importância da floresta. “O fato simbólico é termos transformado em algo concreto um sonho antigo: dar valor aos serviços ambientais prestados pela floresta na Amazônia”, afirma.
Atualmente, o Brasil ocupa o quarto lugar entre os maiores emissores de gases que causam esse efeito estufa, sendo que cerca de três quartos dessa poluição provêm da destruição das matas.
O estudo realizado na reserva estima que, até 2016, a preservação das florestas da região evitarão uma poluição equivalente a 4 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2). Até 2050, uma emissão de gases igual a 189 milhões de toneladas de CO2 poderá ser contida. Para se ter uma idéia, isso significa cerca de um quarto da poluição emitida pela Inglaterra em um ano.
Créditos de carbono
A idéia de que evitar o desmatamento gera um valor equivalente em gás carbônico é conhecida como REDD (em inglês, Reduce Emissions for Deforestation and Degradation, ou Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação).
Essa conseqüência da preservação de florestas, contudo, ainda não é reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) como um mecanismo capaz de evitar a emissão de gases. Isso significa que, oficialmente, a poluição impedida pela reserva não pode ser vendida oficialmente como crédito de carbono.
Já há, porém, um mercado informal interessado em comprar os benefícios gerados pelas florestas. No caso da reserva amazonense, por exemplo, uma rede de hotéis se dispôs a destinar um dólar da diária de cada hóspede para comprar o equivalente a uma tonelada de gás carbônico não emitido. Isso ajudaria a empresa a neutralizar os gases emitidos em sua atividade.
Segundo o diretor da FAS, o certificado obtido pode ajudar a pressionar a ONU a autorizar os projetos de conservação de florestas a comercializar oficialmente a poluição evitada. “Não há nenhuma razão para termos o carbono de florestas fora do mercado”, reclama.
Famílias na floresta
A reserva do Juma ocupa uma área de 5.896 km², o equivalente a quatro vezes o município de São Paulo. Mais de 300 famílias vivem legalmente dentro da área protegida praticando agricultura, pesca e extração de produtos da floresta.
Parte da população local também é beneficiária do programa Bolsa Floresta, lançado pelo governo do Amazonas em 2007. Por meio desse projeto, famílias que vivem dentro de áreas protegidas e ajudam a conservá-las recebem um auxílio de R$ 50 por mês. As comunidades envolvidas também recebem incentivos de cerca de R$ 8 mil por ano.
(G1, 05/10/2008)