O lixo das 300 maiores cidades brasileiras pode servir para a produção de 15% da energia elétrica consumida no País, segundo revela o Plano Decenal de Produção de Energia 2008/2017 do Ministério de Minas e Energia, em Brasília. O cálculo é conseguido sobre todo o lixo recolhido nesses locais, que pode ser transformado em energia de usinas termelétricas. De olho nesse novo nicho de mercado, as empresas que atuam nas áreas de resíduos, saneamento e limpeza pública começam a projetar a construção de novos aterros sanitários.
As companhias espelham-se em determinação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada ao Governo de São Paulo, que só aceita funcionamento de antigos lixões quando transformados em aterros controlados, tendo cobertura dos detritos com terra. Entretanto, novas licenças são concedidas apenas para centros de tratamento, que têm controle sobre a produção de chorume e de gás.
Um executivo de uma companhia que atua no Estado admitiu que "não interessa mais" operar na limpeza pública, "mas trabalhar com aterros", para aproveitar a onda verde da energia do biogás. São Paulo tem hoje 21 aterros particulares. Há dois pedidos de licenciamento em tramitação no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema).
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) declara que, em 1997, havia apenas dois aterros privados no Estado. Em 2007, já eram 21, além de três para resíduos industriais. "Hoje, 70% dos resíduos domiciliares de São Paulo são depositados em aterros privados. A capital responde por 50%. São 95 municípios que usam equipamentos privados. As prefeituras preferem esses aterros pela qualidade ambiental e dos serviços e pelo maior gerenciamento", afirma seu presidente, Diogenes Del Bel.
Os dois aterros da capital paulista estão com a capacidade esgotada. O São João, na Zona Leste, ainda receberá detritos até março de 2009. Depois será fechado. O contrato de 20 anos e R$ 10 bilhões no município, assinado em 2004, prevê a construção de novos equipamentos. A atual gestão renegociou os contratos e prorrogou prazo para a criação de novos aterros.
Enquanto isso, as 15 mil toneladas de lixo produzidas pelos paulistanos vão para a central de resíduos Essencis, em Caieiras. A EcoUrbis, que administra o aterro São João, aguarda liberação da licença de funcionamento de área em São Mateus, no limite com Mauá, para instalar outro equipamento.
As empresas projetam a possibilidade de os aterros particulares atenderem a vários municípios de uma mesma região. "O raio de atendimento, com custo competitivo, é de até 70 quilômetros", afirma Luciano Amaral, presidente da Vega Engenharia Ambiental, sócio do Essencis, que faz limpeza pública em parte da capital paulista. Em Porto Alegre, essa teoria já entrou em prática: um centro de tratamento de resíduos atende a cidades localizadas num raio de 140 quilômetros.
(Por Eduardo Reina, Agência Estado, O Povo, 03/10/2008)