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exploração de petróleo petróleo no ártico povos autóctones
2008-10-03

Vista das alturas, uma vasta planície de terra negra e de vegetação selvagem se estende até mergulhar abruptamente no mar. Este cenário tem como pano de fundo uma gigantesca cadeia de montanhas que ocupa toda a linha do horizonte. É neste lugar, situado no grande norte do Alasca, a poucos quilômetros da fronteira com o Canadá, que Sarah Palin, a governadora do Estado e companheira de chapa de John McCain, o candidato republicano à Casa Branca, quer cavar o solo para dele fazer jorrar petróleo.

Seja bem-vindo à "Zona 1002", o Artic National Wildlife Refuge (ANWR - Reserva nacional de vida selvagem da região do Ártico, onde, por enquanto, a exploração de petróleo é proibida). Este parque, no qual a presença humana está limitada aos cerca de trezentos esquimós inupiats da aldeia de Kaktovik, divide os defensores do meio-ambiente e os partidários de uma exploração dos recursos da reserva. Estes últimos acreditam que esta exploração seria um meio para diminuir a dependência dos Estados Unidos em relação ao petróleo bruto do Oriente Médio.

No caso, este debate tem sido retomado de maneira recorrente nos últimos vinte anos, a partir do momento em que a produção de petróleo das jazidas do Alasca apresentou os primeiros sinais de esgotamento. Em duas oportunidades, o presidente George W. Bush, apoiado pelos grandes grupos da indústria petroleira, entre os quais a Exxon, a Shell e a Conoco Phillips, tentou obter do Congresso a autorização para perfurar poços na região. Nas duas ocasiões, o projeto foi rejeitado por uma diferença de poucos votos.

No médio prazo, segundo as previsões da atual administração, a ANWR poderia fornecer um milhão de barris por dia durante cerca de trinta anos, ou seja, o equivalente de pouco menos de 4% das importações americanas. Insistindo nos argumentos que vinham sendo defendidos por George W. Bush, Sarah Palin promete uma exploração "responsável", atenta para o respeito dos equilíbrios ecológicos, e que prejudicaria apenas uma "pequena parte" da reserva na sua área litorânea.

Essas declarações deixam as organizações ecológicas escandalizadas. "Serão necessários entre sete e dez anos de trabalho até que essas obras consigam obter as primeiras gotas deste 'ouro negro', e a diminuição do preço na bomba que resultar desta exploração será de alguns centavos de dólar, não mais", sublinha Peter Van Tuyn, um advogado de Anchorage. "Portanto, nós continuaremos na dependência do petróleo importado, só que, além disso, teremos de aturar a presença de novos oleodutos e o impacto de uma série de danos ambientais que irão comprometer ainda mais o equilíbrio da região; ou seja, aumentarão os riscos de vermos o Alasca ser transformado no palco de uma poluição de grandes dimensões".

Vazamentos tóxicos
Em Nuiqsut, a primeira aldeia esquimó que o viajante encontra depois de uma viagem de avião de uma hora, situada a oeste de Kaktovik, a querela já está ultrapassada. Aqui, em volta das construções provisórias de madeira sobre pilotis plantados no meio de uma tundra, as perfurações implantadas a algumas milhas de distância apenas, bombeiam sem interrupção. Há pouco mais de dez anos, os 450 habitantes desta área aceitaram alugar suas terras para as companhias petroleiras.

Foram dez anos de uma exploração que rendeu cerca de US$ 5.000 (cerca de R$ 9.500) em royalties, por família e por trimestre. Além de um abastecimento em gás gratuito, complementado pelo fornecimento de gasolina a preço muito reduzido (US$ 3,75 - R$ 7,125 - o galão, ou seja, pouco menos de 1 dólar o litro) para alimentar as vans 4×4 que transitam constantemente em volta da aldeia, por causa da inexistência de estradas praticáveis na região.

"Eles começaram sem avisar propriamente a população", recorda-se James Taalac, 38 anos, um cidadão encarregado da salvaguarda cultural da comunidade em relação com a indústria petroleira. "Inicialmente, os veteranos lutaram contra o projeto, mas tiveram de se render diante do fato consumado. Aquilo era inevitável. A exploração ajudou a nossa economia e modernizou a aldeia. Muitos outros municípios não tiveram a mesma sorte e enfrentam dificuldades até hoje". Entretanto, ele reconhece que alguns esquimós inupiats enxergam na extração do petróleo uma fonte de destruição para o meio-ambiente e a sua cultura tradicional.

No total, pelo menos 6 mil poços foram perfurados nesta região que se estende até a cidade de Prudhoe Bay, onde fica o ponto de partida do oleoduto que atravessa o Alasca, de norte a sul, até Valdez. Duas plataformas em alto-mar da British Petroleum (BP) foram construídas e 2.000 quilômetros de oleodutos foram implantados ao ar-livre, formando um dos maiores complexos industriais no mundo. "Nós acabamos nos tornando dependentes desta indústria em menos de dez anos", explica um caçador esquimó.

Segundo informam as próprias companhias que exploram o petróleo, haveria uma centena de ocorrências de vazamentos tóxicos por ano; peixes que foram analisados em laboratório conteriam taxas elevadas de PCB (ou bifenil policlorado, um composto químico de alta toxicidade e persistência ambiental, muito danoso para o ser humano); porções de terra fértil estariam impregnadas de bário, de clorato e de benzeno, três elementos químicos também altamente tóxicos; a fauna selvagem estaria diminuindo, prejudicada pela poluição sonora das instalações e dos oleodutos.

"Quando tudo começou, eles nos prometeram cinqüenta novos empregos por ano", lembra amargamente Rosemary Ahtuangaruak, que é membro do conselho regional tribal de Nuiqsut. "Mas eles nunca tomaram qualquer providência nesse sentido". Esta personalidade local enumera as diversas repercussões sanitárias e sociais sobre a região desde o começo da exploração do petróleo. A asma, que é provocada pelas fumaças tóxicas, atinge praticamente um membro de cada família. O número de casos de distúrbio da tiróide é elevado. Além destes, outros indicadores transmitem a imagem de uma comunidade sob tensão: os casos de vandalismo, de violência doméstica, de abuso de álcool e de drogas vêm aumentando constantemente.

"Nós perdemos o controle da situação, e nós não podemos interromper essas atividades", explica Rosemary, alarmada.

(Por Nicolas Bourcier, Le Monde / UOL, 03/10/2008)


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